segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pedro mais um brasileiro dos meus dias.

Reproduzo o artigo assinado pelo Pedro - mais um brasileiro que como eu não deseja a volta do passado e nem perder os ganhos do presente. 


Um Desabafo


Eu sou apenas um eleitor de 49 anos que como todos os outros no país
vão votar para presidente.

Nunca vivi um Brasil tão bom nesses quase 50 anos. Fui adolescente nos
tempos da ditadura, vivenciei amigos do meu pai e professores meus
sendo torturados e exilados, participei do comício das Diretas Já, da
anistia política, dos carapintadas do Fora Collor, e sofri altas
amarguras no governo do Fernando Henrique, e só vi agora nestes
últimos 8 anos o Brasil ser um país de verdade.



Eu moro hoje em uma cidade do interior do estado de São Paulo e para
mim o Alkmim governador e o Serra presidente até que seriam melhores,
mas tenho minhas dúvidas. Talvez mais recursos para minha cidade, que
tem um excelente Prefeito do PSDB, incluso na lista dos 100 melhores
prefeitos do país. Mas o Serra é um traidor. Ele, há dois anos, traiu
o Geraldo Alkmim, e roubando-lhe a prefeitura de SP e vendeu-a para o
DEM para conseguir apoio político. Na época do governo do Fernando
Henrique, ele mesmo foi contra o plano Real, ele usou a idéia dos
genéricos do Itamar, isso tudo foi divulgado nessa mesma imprensa (que
não se diz livre) que está aí tentando elegê-lo. Lembre-se, galera,
que a imprensa vive de vender jornal, revista e anuncio para a TV,
sendo a informação o menos importante pra ela (que jura que não). E
quanto mais escândandalos, melhor a venda. Quando Prefeito de São
Paulo o Serra gastou mais de 50 milhões só com assinaturas das
revistas Veja e Isto é, 27 milhões com assinatura da revista Turma da
Mônica. Mais de 6 milhões com assinatura de palavras cruzadas
Coquetel, 10 milhões com Jornais como a Folha de São Paulo e o
Estadão. Está tudo no Diário Oficial de São Paulo. Fica fácil de ver
porque esses meios de comunicação apóiam a candidatura dele fingindo
serem isentos.
Se no Rio de Janeiro um time que não seja o Flamengo for campeão da
Taça Libertadores, e o Flamengo conseguir não cair para a segundona, a
Manchete da primeira página será bem grande: ”FLAMENGO ESCAPA DA
SEGUNDA DIVISÃO” com foto e tudo de um zero a zero vagabundo. E o
outro time, se for campeão vai ficar em segundo lugar no destaque,
porque? Porque vende mais jornal para a torcida flamenguista,
simplesmente por isso.
           Acreditem em fatos! Lembrem-se do passado um pouco mais
distante! Fala sério, essa mesma imprensa de agora ajudou a eleger o
Collor, o Fernando Henrique e até o Lula, depois que viram que não
tinha mais jeito, sempre com algum interesse. Atenham-se aos fatos.
Duvido que quem receber esse e-mail e que com certeza pertencia a uma
classe média na época do FHC, não se apertou completamente em dívidas.
Sabem porque? Nossas contas a pagar foram transformadas em dolares.
Uma dúzia de bananas, que custava um cruzeiro de um dia para o outro
passou a custar um real, o que significou um aumento de 275%. E nós,
dessa classe média, como sempre aceitamos e pensamos: “é um sacrifício
para melhorar”. Passaram-se 8 anos de FHC e o aperto continuou, essa
inflação invisível foi “entubada” pela classe média. Antes do plano
real, um trabalhador que se matando conseguia ganhar mil dolares por
mês, quando  ele deixou o governo, esse mesmo trabalhador só conseguia
no máximo uns 700 dolares. Fora a inflação escondida. Só agora nos
últimos anos com o governo Lula é que a classe média voltou a comprar,
investir e abrir empresas. Muitos pobres agora são classe média e
nunca se gerou tanto emprego. O Bolsa família (que muitos criticam)
tem como maior fundamento, não deixar os trabalhadores indolentes, e
sim colocar dinheiro na economia, o qual volta na forma de impostos e
gera empregos. A Suíça, a França, a Suécia, a Dinamarca, o Canadá
entre, outros fazem a mesma coisa. Procurem informações numa imprensa
menos monopolizada e menos comprometida. É inegável que hoje em dia a
vida melhorou para todos de alguma forma. Pergunte a sua empregada
doméstica, ao trocador do ônibus e à trabalhadores que antes nem
existiam para a nossa percepção, antes excluídos da economia. Essa
gente, que é a maioria do país está ascendendo na vida. Eles não vão
roubar o seu emprego, eles vão ser trabalhadores melhores, mais
educados e comprometidos. Como isso pode ser ruim? Vejam o Brasil no
cenário internacional, nunca se investiu tanto no país, a visibilidade
do país está em alta, temos por aí uma copa do mundo e uma olimpíada
para provar a nossa imagem lá fora. A política exterior do Presidente
Lula, que ficam dizendo que é aliado do Hugo Chaves e do presidente o
Irã, é tudo falácia de imprensa. Vocês acham que com o poder que tem
os EUA e a simpatia que o Lula tem do próprio presidente Obama ele se
aliaria a esses loucos? Ele faz é política como nunca se fez antes
neste país, política de verdade, pacificadora e conciliadora. Antes se
faziam conchavos e negociatas. Podem até falar de mensalão, outra
idiotice, isso não é novidade do PT. E pra falar a verdade pelo menos
agora se falou nisso, e de alguma forma puniram-se alguns indiciados.
Antes ficava por isso mesmo. Lembram dos anões do orçamento? O esquema
era o mesmo. Quantos políticos e empresários corruptos foram presos e
punidos pela Polícia Federal recentemente? Mais do que nunca,
milhares. Gente inclusive do próprio PT. Pergunto a vocês: mudar agora
que o Brasil tá dando certo, andando pra frente a olhos vistos, por
brasileiros e estrangeiros, porque? Passamos quase 30 anos por uma
ditadura militar implacável, depois muitos outros governados por uma
turma que desde Cabral só pensava em como roubar a pátria e o nosso
dinheiro. Depois de tanta luta, abrir mão do que foi conquistado e
devolver tudo que ganhamos e conquistamos para aquela mesma turma?
Acordem! Se informem, não acreditem em tudo que se lê, e o que se
ouve, principalmente por uma imprensa parcial e monopolizada como a
nossa. Aqui na internet é fácil de pesquisar. Procurem, pesem os prós
e contras. Fabricar notícias difamatórias é muito fácil hoje em dia.
Fazer uma montagem fotográfica com a Dilma ou o Serra em uma orgia,
roubando, ou fazendo qualquer ato ilícito, é muito fácil. Forjar
dossiês é mais fácil ainda, e esse jogo sujo tem sido feito pelo PSDB,
que atinge uma classe média desinformada que hoje se mata para pagar a
contas e lêem a esses e-mails difamatórios no fim da noite sem checar
a veracidade, indignando-se sem saber que está sendo enganado. Ficam
criticando o nosso Presidente chamando-o de analfabeto e tal, se vocês
pesquisarem, o diploma de economista do Serra nem é válido no Brasil,
se é que existe. O Collor tem curso superior, o Sarney então, publicou
um livrinho de M na vida e está na Academia Brasileira de Letras. E
agora onde estão eles? Esmolando conchavos com o PT só pra não
encherem o saco, e cada dia mais distantes e esquecidos, como deve
ser.
Como pode estar ruim agora? Um presidente com aprovação de avaliação
boa e ótima de 80% e mais 13% de regular, não pode ser mentira, minha
gente Essa mesma imprensa diz isso, será que 93% das pessoas que você
conhece são idiotas ou estão enganadas? Ao votar na Dilma você não
estará votando apenas para presidente, estará votando num projeto de
governo que vem dando certo e tem que continuar. Ela conta com a
maioria do congresso e do senado onde ganhará governabilidade. Você
trocaria de esposa ou de marido ao primeiro sorriso de outro parceiro
que parecesse novidade? E você jovem brasileiro que está em seus
primeiros atos como eleitor, você só esta aí fazendo isso porque esse
direito foi conquistado recentemente  por essa gente que está
governando hoje em dia, vindos do povo como você. Mesmo você, classe
média alta, volte algumas gerações e você verá trabalhadores que
cresceram na vida, vindos do povo. Acordem, se informem e pesquisem. É
só isso que peço. Posso listar mais um monte de exemplos, mas tenham
um pouco de trabalho. Abaixo apenas uns exemplos de links sérios para
vocês verem e é só procurar que existem muitos outros. Quem gostou
repasse, quem não gostou, fica a informação.



Um Grande Abraço.

Pedro

http://www.cartacapital.com.br/category/politica

http://www.conversaafiada.com.br

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-psicologia-de-massa-do-fascismo-a-brasileira

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/marina-pela-minha-tradicao-eu-seria-favoravel-a-apoiar-o-pt

http://www.amalgama.blog.br/10/2010/para-voce-que-nao-votou-na-dilma/

http://www.youtube.com/watch?v=0P5VJDK3vKw

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17016

http://www.viomundo.com.br/denuncias/serra-psdb-educacao-midia-acoes-entre-amigos.html

http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/10/ministro-do-tse-suspende-acesso-video-considerado-ofensivo-ao-pt.html

http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4738564-EI15311,00-Exaluna+de+Monica+Serra+eu+nao+esperava+tanta+repercussao.html

http://www.parana-online.com.br/colunistas/337/80987/

http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4738104-EI15315,00-Monica+Serra+contou+ter+feito+aborto+diz+exaluna.html


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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fatos, simplesmente fatos.

O sindicalismo brasileiro foi outorgado pelo governo da época. Não foi fruto da conquista através da luta das classes trabalhadoras. Getúlio Vargas foi o autor da instalação dos sindicatos no Brasil.

A renúncia de Jânio Quadros a Presidência da República eclodiu na disputa entre os que não queriam dar posse a Jango e os que aprovavam a posse ao cargo de presidente do país.

O Congresso através do Deputado Santiago Dantas propôs o sistema parlamentarista para acalmar os ânimos dos que temiam um presidente comunista no comando do país. Reservava a posse num regime político onde o presidente tivesse menos poder.

Tancredo foi ao encontro de Jango, no Uruguai. Em 1º de setembro de 1961, Jango pisou no solo brasileiro, no Rio Grande do Sul. O General Geisel desembarcou com o Jango e dava apoio à legalidade da posse do presidente.

O Congresso aprovou a Emenda Constitucional nº 4 dando menores poderes presidenciais. Raul Pila foi o autor da emenda parlamentar.

Tancredo Neves foi eleito o 1º Ministro de Estado. Roberto Lyra, Almino Afonso, Santiago Dantas, Ulisses Guimarães eram membros do ministério.

Jango propôs as reformas de base.

No nordeste Julião organizava a Liga Camponesa juntamente com Professor Assis. Sendo a reforma agrária uma das mais fortes bandeiras do movimento. O salário do trabalhador rural foi à primeira reação dos donos de terras.

João Pedro Teixeira foi morto a mando dos latifundiários. A violência no nordeste chamou atenção do governo norte-americano. Os irmãos Kennedy interessaram-se com a condição explosiva do meio rural.

A igreja montou uma linha menos agressiva para organizar os trabalhadores rurais brasileiros. O Papa João XXIII optou pelos pobres.

O Brasil apoiou a autodeterminação de Cuba e foi mediador na crise dos mísseis com os EUA. Jango não concordou com a invasão da ilha.

O mundo foi dividido em dois, foi instalada a Guerra Fria. 


Se o Brasil tivesse instalado um governo esquerdista, o que preocupava o governo americano e que após a morte de JFK piorou a relação entre os países.

Aconteceu o plebiscito de qual regime político deveria ser instalado no Brasil e  a vitória do presidencialismo foi a escolha soberana do povo.

Em 1963 instalou-se um clima de conspiração das lideranças políticas nacionais desde Brizola a Nei Braga, ou seja, todos queriam o poder e se convenciam que Jango não largaria o poder.

A alimentação ficou em falta e o boicote dos grandes produtores estimulava a crise social. Os sindicatos e estudantes, cada um na sua praia, brigavam por mudanças.

O IBADI financiava os candidatos a oposição de Jango. A desapropriação das empresas estrangeiras agravou a crise.

Não havia dinheiro para pagar à vista a desapropriação das terras e das empresas, concederem aumentos para os trabalhadores. Negavam empréstimos ao governo federal e concediam para Carlos Lacerda e ao governador paulista.

O pai do Senador Artur Virgilio era parlamentar a época.

As diretrizes de base da educação foram aprovadas, instituiu órgão para a futura reforma agrária, instituiu a Eletrobrás, o Código de Telecomunicação e a Embratel, limitou a remessa de lucros, a instalação de ferrovias no campo.

O Poder é inebriante e enganoso.

O comício da Central do Brasil, março, sexta-feira, dia 13, levou 200 mil pessoas para apoiar as reformas de base.

A mobilização contra, partiu de São Paulo, através da passeata “Deus com a Família”, organizada por um padre da igreja católica.

A participação do Cabo Anselmo é cheia de nebulosidade. Era agente antes do golpe ou ficou agente após o golpe militar?

No dia 30 de março, a Associação de Sargentos e suboficiais homenageou Jango. Votos dos sargentos, dos analfabetos, das prostitutas, da posse dos candidatos sargentos eleitos. Enfim, Jango inverte a ordem hierárquica e apoia os sargentos, o que revoltou os oficiais.

O Gal. Humberto Castelo Branco preleciona na Escola Superior de Guerra e incita os militares a ter lealdade ao governo e não ao chefe de governo.

Na madrugada do dia 31 de março as tropas do General Olimpio Cruz avançam  sobre a Guanabara.

Lacerda ataca o Almirante Aragão que era leal a Jango.

Aos jovens que desconhecem esta passagem da História do país. Alguns resultados: ficamos mais de duas décadas sem direito a escolher o presidente da República através do voto direto. Milhares de vidas foram ceifadas na disputa insana pela manutenção do poder e com desrespeito as leis vigentes da época e da democracia.

A politicagem praticadas por civis da época tal como Carlos Lacerda, só colaborou com a reação dos militares.

Vislumbro o ano de 2010, um clima diferente no interior das Forças Armadas, pois  encontraram no governo do presidente Lula, o respeito e sensível aliado. 

Noutro tempo, não muito distante, a dispensa dos recrutas era constante por falta de comida para as tropas, soldos baixos e faltava até mesmo - pasmem -  munição para treinamento das tropas. Essas são verdades que nenhum dos atuais comandantes das Forças Armadas negaram!

Neste tempo, não muito distante, o governo que comandava o país, não evitou a falência e incentivou a venda de empresas públicas para o setor privado, que desenvolviam alguma tecnologia no campo da defesa nacional, como os casos da Embraer ou da Engesa. 


O esvaziamento do Instituto Tecnológico da Aeronáutica - ITA - hoje revigorado. Ressalto que estas empresas e instituto desenvolviam inovações ou descobertas aproveitadas no campo da melhora do parque industrial brasileiro. Não era fabricantes da morte.

O nosso país é rico de produtos essenciais à vida humana: terra e água. Daqui alguns anos, previsão para o ano de 2040, seremos um país composto de maioria das pessoas da 3ª Idade. 


Imaginem um país de maioria de idosos e sem Forças Armadas equipadas e preparadas para defender nossas riquezas naturais e nossas vidas! Imaginem nossas famílias: filhas, filhos, netas e netos e nossas casas e terras invadidas por estrangeiros, em busca do pão e da água.

Um governo que pense no futuro e age no presente, merece o meu respeito e o reconhecimento de que a continuidade é essencial para o nosso bem - estar, bem como, das gerações seguintes do povo brasileiro.



Reflexão

 Aos que procuram atacar a candidata Dilma que representa o governo do presidente Lula. Deixo uma dúvida diante do teor do documento: - Será que naquela época os americanos receberiam um “esquerdista” para morar dentro do próprio território americano?

Atacar um governo que retirou 28 milhões de seres humanos da extrema pobreza e mais 33 milhões para uma Nova Classe Média, que defende os interesses nacionais como nos casos do: floresta amazônica, pré-sal, equipa e aumenta o contingente das Forças Armadas, que possui a maior reserva de água doce potável do planeta e um território continental de terras agriculturáveis, que procura desenvolver novas tecnologias investindo na criação de universidades públicas e centros de pesquisa.

Um país que privilegia as relações com os países do eixo Sul-Sul. 

Um país poderá chegar a 5ª maior economia do planeta em poucos anos. 

O documento transcrito evidencia que interesses e quem são os interessados numa derrota do governo atual na eleição que se avizinha.

Mas ser escravo colonizado não é o meu feitio. Nem do povo brasileiro que, lamento, estar distante da realidade dos interesses internacionais.  

Leia a íntegra do documento publicado na Folha de S.Paulo.

"Um plano de contingência para o Brasil"

Escrito em 11 de dezembro de 1963 por Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil, e Benjamin H. Head, então secretário-executivo do Departamento de Estado, previa desfechos para a crise institucional pela qual o Brasil passava no final de 1963
6 de janeiro de 1964

MEMORANDO PARA O SR. McGEORGE BUNDY
A CASA BRANCA

Assunto: Proposta de plano de contingência para o Brasil

O documento anexo contendo um plano de contingência para o Brasil é transmitido para o sr. Ralph Dungan. Deverá ser discutido numa reunião com o secretário assistente Thomas Mann em 8 de janeiro, para o qual o sr. Dungan foi convidado pelo telefone. O documento anexo foi redigido em cooperação com o embaixador Gordon. Enquanto o redigimos, fomos beneficiados ao nível de trabalho por comentários e sugestões dos escritórios e agências interessados, estando esses comentários e sugestões refletidos no documento anexo.

Assinado: Benjamin H. Read
Secretário Executivo
Anexo: Plano de contingência para o Brasil.

SECRETO
PLANO DE CONTINGÊNCIA PARA O BRASIL

Contingência, no sentido em que será empregado de agora em diante, se refere a qualquer tentativa importante de mudar significativamente, pela violência ou por outros meios, o caráter do regime que governa o Brasil. O presente documento não deve ser interpretado como sendo uma previsão de que o regime Goulart, conforme é constituído atualmente, será derrubado. Tampouco é política do governo dos EUA procurar provocar a derrubada do regime Goulart.

Algumas premissas subjacentes

1. Não se pretende que contingência descreva conspirações golpistas de direita como as que vêem ocorrendo recentemente no Brasil. Em vista do regime democrático constitucional existente, é difícil conceber qualquer mudança significativa na postura dos EUA em relação a essas diversas conspirações golpistas. Qualquer associação de idéias dos EUA com tais complôs deve ser evitada, como questão de política fundamental, porque a) poderia ser interpretada por Goulart como intervenção dos EUA --situação que seria prejudicial aos interesses americanos, e b) tais complôs podem ser usados por Goulart como pretexto para fortalecer seus próprios poderes. Será necessário, é claro, que os EUA mantenham contato secreto com os diversos grupos anti-Goulart para a finalidade de recolher informações de inteligência e para o exercício de uma influência moderadora, nos casos em que esta for apropriada.

2. Qualquer mudança no regime democrático constitucional existente é altamente improvável se a parte principal das forças armadas for contrária a ela. Se as forças militares estiverem substancialmente unidas, elas poderão ser uma força decisiva a favor ou contra uma mudança fundamental no caráter do regime existente. Uma contingência só poderá assumir proporções sérias, portanto, na medida em que tiver o apoio dos militares ou envolver uma divisão importante no interior das forças armadas. Sem uma divisão significativa nas forças armadas, qualquer revolta vinda da direita ou da esquerda poderá ser reprimida por elas.

3. Um grupo de inclinação democrática que buscasse alcançar ou manter a liderança nacional no Brasil relutaria extremamente em solicitar a intervenção ou o apoio abertos dos EUA, a não ser que a) houvesse indicações claras de intervenção soviética ou cubana, ou b) o grupo se convencesse de que o apoio dos EUA seria essencial para impedir a tomada de controle comunista do país. É mais que provável, porém, que alguma forma de apoio não declarado seria pedida aos EUA (seria preciso que fosse exercida cautela de nossa parte contra o uso injustificado do rótulo comunista).

Contingências alternativas

Em vista do quadro acima exposto, as seguintes contingências alternativas merecem consideração:

(a) Uma revolta esquerdista extremista contra o regime de Goulart, tendo o apoio de um segmento das forças armadas. É altamente improvável que uma parcela significativa dos militares brasileiros daria apoio a tal revolta esquerdista radical, em vista da combinação de engajamentos implicados, ou seja, apoio à extrema esquerda e oposição ao regime constitucional. Em vista disso, tal revolta poderia ser grave, mas provavelmente não constituiria ameaça ao regime, exceto na medida em que pudesse levar à alternativa (c) exposta abaixo.

(b) Resistência declarada e organizada de forças democráticas de dimensões relativamente grandes, contando com apoio militar considerável, contra o esforço de Goulart de tomar o poder autoritário. Isso mais provavelmente ocorreria em resposta à intervenção nacional em um ou mais Estados, ao fechamento do Congresso ou a alguma outra ação amplamente vista como ameaça mortal à democracia ou como sendo inconstitucional. A iniciativa de Goulart provavelmente seria em direção a uma ditadura de tipo peronista, em lugar de comunista, embora ela pudesse implicar em acomodações e alianças perigosas e potencialmente explosivas com a extrema esquerda, sobre as quais Goulart talvez não pudesse manter controle efetivo.

(c) O afastamento de Goulart pelas forças militares ou outras, visando obter uma liderança nacional "mais eficaz". Goulart poderia ser "persuadido" a renunciar, poderia ser forçado a "enxergar o que está escrito na parede" (uma referência a um trecho do Velho Testamento em que o rei Nabucodonosor viu palavras que apareceram à sua frente numa parede. Significa algo que está por vir e não pode ser evitado, NT) --em suma, por vontade própria ou contra sua vontade, ele poderia ser forçado a abrir caminho para um sucessor. Isso mais provavelmente aconteceria em decorrência de um estado de exasperação coletiva acumulada com o caos político e econômico progressivamente mais perturbador.

(d) Uma tomada do poder gradual por ultranacionalistas de extrema esquerda, com ou sem a colaboração de Goulart, acompanhada pela neutralização ou fragmentação das forças armadas e que, portanto, encontraria resistência apenas simbólica ou ineficaz. Nessa situação, elementos da extrema esquerda continuaram a ascender a posições de autoridade, sem criar uma questão suficientemente firme, substancial e claramente definida contra a qual se pudesse montar uma oposição efetiva.

A. Revolta esquerdista extremista:

Nessa situação, pode-se esperar que os Estados Unidos condenem a revolta, que forneçam armas e outras formas de ajuda ao governo brasileiro, se essa ajuda for pedida, e que explorem a experiência para incentivar tanto a contenção dos excessos extremistas quanto uma abordagem séria à reforma construtiva por parte do governo brasileiro. Parece improvável, porém, que seria solicitada a ajuda de forças dos EUA. Qualquer preparativo antecipado para tal assistência dos EUA seria regido pelas mesmas restrições expostas no item "B" abaixo.

Se tentássemos fazer uma avaliação de probabilidades, esta contingência pareceria a menos provável entre as que são expostas neste documento, devido à extrema relutância de uma grande parte da esquerda de lançar uma ação sozinha e à improbabilidade de que qualquer parcela significativa das forças armadas pudesse apoiar tal tentativa.

B. Revolta democrática contra excessos do regime:

Isto traz implícito a possibilidade de guerra civil ou, no mínimo, de um choque entre forças democráticas e o regime de Goulart, que está no poder. Sob tais circunstâncias, devemos nos abster cuidadosamente de dar apoio a Goulart por meio de pronunciamentos públicos, fornecimento de armas ou de qualquer outra maneira.

Devemos manter uma postura não intervencionista inicial, mas, ao mesmo tempo, buscar maneiras de dar assistência às forças democráticas. Tais ações seriam limitadas pelo grau em que fossem solicitadas e poderiam ser conduzidas de maneira internacionalmente aceitável. Se uma parte significativa do território nacional ficasse sob o controle das forças democráticas, seria altamente desejável a formação de um governo provisório alternativo para poder solicitar ajuda. Em tal caso, os EUA poderiam muito provavelmente dispor-se a fornecer apoio sigiloso ou mesmo declarado, especialmente apoio logístico (POL [combustíveis], alimentos, armas e munições), mas dispor-se a intervir com forças apenas se houvesse indicações claras de intervenção do bloco soviético ou cubana do outro lado.

Devem ser empreendidos planejamento e preparo para essa contingência. Entretanto, deve ser exercida cautela contra a tomada de passos preparatórios que pudessem ser descobertos prematuramente e identificados como preparativos dos EUA para uma intervenção secreta ou aberta no Brasil. Isso poderia provocar no Brasil o tipo de desdobramentos que estamos tentando prevenir e seria gravemente prejudicial aos Estados Unidos em suas relações no Brasil, no hemisfério e fora dele. Ademais, qualquer ação no sentido de fornecer apoio armado deve ser determinada específica e politicamente por uma avaliação cuidadosa das circunstâncias do momento e não deve ser desencadeada por um conjunto de circunstâncias predeterminado ou previamente definido.

C. Afastamento de Goulart por forças construtivas:

Isso poderia acontecer de diversas maneiras. Não haveria problema algum para a política dos EUA na eventualidade de uma mudança constitucionalmente arquitetada, com Goulart sendo "persuadido" a afastar-se e o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli, o sucedendo, conforme manda a Constituição, até que o Congresso, no prazo de 30 dias, elegesse um novo presidente conforme o previsto na Constituição. Mas a mudança poderia assumir outras formas, incluindo uma tomada interina do poder pelos militares. Nesse último caso, devemos assumir uma atitude construtiva e amistosa e, ao mesmo tempo, exercer pressão pelo retorno rápido aos processos democráticos constitucionais, estando preparados para fornecer apoio e assistência rápidos ao novo regime, assim que este mostrar-se suficientemente comprometido com o retorno aos processos democráticos.

D. Tomada esquerdista extremista gradual:

Será extremamente difícil criar uma política efetiva em relação ao Brasil sob tal situação. Deve ser nosso objetivo levar os elementos preponderantes mais moderados e democráticos a retomar o controle. O Brasil é um país muito grande e não pode ser muito facilmente pressionado. Portanto, as forças em favor de uma mudança terão que vir de seu interior. A dificuldade de planejar uma política eficaz para esta contingência torna maior a importância de se fazer todo o possível de impedir que ela surja. Esse é o objetivo central do documento LAPC de 30 de setembro.

Apoio comunista externo:

Se, sob essa ou qualquer outra contingência, houver evidências claras de apoio externo de fontes do bloco soviético, comunistas chinesas ou cubanas, isoladamente ou com a concordância da OEA, devemos condenar essa intervenção abertamente e buscar maneiras de impedir que aconteça.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um país para 190 milhões de brasileiros. final.

Ùltima parte entrevista Dilma: Um país para 190 milhões de brasileiros.

Jorge Mattoso – Em que medida essa matriz energética contribuiu para uma inserção diferenciada no Brasil na questão do aquecimento global?

Dilma – É importante destacar que a geração de energia elétrica com base no carvão e no óleo diesel é a grande matriz da poluição do mundo. Há quem defenda quer deve ser substituída pela energia eólica e solar, mas para adotar tais fontes na escala demandada, seria necessária uma revolução tecnológica, uma revolução que nos desse a capacidade de estocar o vento. A hidrelétrica é funcional porque se pode estocar água, mas o vento não se estoca. Essa alternativa não sustenta, sozinha, o crescimento de nenhum país. Por isso, a matriz desses países continua sendo o carvão, não a energia eólica e solar. E não há nada mais poluente no mundo do que carvão e óleo combustível. No Brasil, nos temos uma matriz baseada na hidroeletricidade, etano e biocombustíveis. Não há no mundo quem tenha matriz energética renovável na proporção que nós temos.
        E não é porque o Brasil descobriu o pré-sal que nossa matriz será baseada em petróleo de agora em diante. O petróleo do pré-sal é basicamente para a exportação e não para consumo local. Por quê? Primeiro, porque em grande medida já somos auto-suficientes. A descoberta do pré-sal não acrescentará muita coisa ao nosso petróleo para consumo. Poderá melhorar nosso combustível, porque o óleo do pré-sal é de melhor qualidade, mas, rigorosamente, ele se destinará sobretudo à exportação. Nossa matriz continuará sendo fortemente renovável e nos cumpriremos, em qualquer hipótese, a meta de reduzir as nossas emissões de gases de efeito estufa.
        O fato de não adotarmos uma política imediatista em relação ao meio ambiente e à mudança do clima, fez com que o Brasil tivesse, em Copenhague, uma atitude distinta da dos países mais desenvolvidos. Como disse, cumpriremos nossa meta em qualquer hipótese, isso explica nossa posição em relação ao financiamento das ações para deter o aquecimento global.  Em alguns momentos, durante o encontro, houve situações constrangedoras e desagradáveis. Tentaram fazer com que mudássemos de posição, dizendo coisas como “Quando a gente liberar recursos, podemos cobrar o cumprimento das metas”, algo assim. E o presidente Lula disse clara e publicamente: “Dispenso o dinheiro. Não preciso dele, vou cumprir minha meta”. Foi o que assistimos. No final, saiu de Copenhague um único acordo, com o mérito de reconhecer que, ate o fim do século, a temperatura não pode aumentar acima de dois graus centígrados. Foi o acordo feito entre Brasil, China, Índia, África do Sul e os Estados Unidos – estes, falando em nome da Europa. É um acordo de efeitos limitados, porque os países importantes não tocaram em suas metas.

Emir Sader – Em relação ao Estado, qual a situação que governo Lula encontrou e qual vai deixar?

Dilma – O processo de desarticulação das atividades do Estado brasileiro foi muito forte, como muito forte também foi o processo de desagregação social. Veja, por exemplo, o fato de tantas pessoas morarem em áreas de risco – beiras de cursos d´água, encostas de morro etc. Em  lugares onde, até o governo Lula, o Estado nunca tinha colocado os pés, ou então quando colocou, o fez de maneira paliativa, gerando a favelização e a exclusão de milhões de brasileiros. Por isso, quando ocorreram alagamentos e desabamentos no período das chuvas, as pessoas mais pobres são as mais afetadas. Não podemos nos surpreender. Até o governo Lula, acumulou-se muito o déficit  habitacional, sabemos que 90% dele refere-se à falta de moradia para quem ganha até três salários mínimos. Logo, ao longo dos últimos 20 anos, uma parte da população pobre do país foi obrigada a morar em áreas de risco, as mais alagadas e onde mais se verificam desmoronamentos e mortes resultantes de chuvas fortes. Naquela época, não se aceitava que o governo amparasse famílias pobres pagando subsídios, no montante necessário para tornar possível construir o sonho da casa própria e colocá-lo ao alcance de milhões de brasileiros, como fizemos agora com o programa Minha Casa Minha Vida. O programa prevê construção de um milhão de moradias, com subsídio destinado a quem ganha até seis salários mínimos.
        O governo Lula está no caminho certo, pois combina seu programa de drenagem nas regiões de risco uma política habitacional para a população pobre. Por esse e por outros motivos, é muito importante discutir a questão do Estado.
        Em nosso governo, recompusemos parte da capacidade do Estado de planejar e gerir. Felizmente, nem tudo que havia de bom no Estado brasileiro foi montado. Onde as funções públicas foram mantidas, preservou-se o saber do Estado, questão fundamental em qualquer país. No Brasil, foram preservados o Itamaraty, as Forças Armadas, a Receita Federal, o Banco Central. Os bancos estatais tiveram um período de muitas dificuldades, por pouco Furnas não foi privatizada, a Petrobras enfrentou problemas – havia, inclusive, proposta para mudar o nome da Petrobras para Petrobrax, pois segundo os proponentes, soaria melhor aos ouvidos dos investidores internacionais. Mas a sociedade reagiu duramente, esses processos foram interrompidos e arquivados.
        No governo Lula, recompusemos os bancos públicos e seu papel. Valorizamos seu funcionalismo com planos de cargos e salários adequados, apostamos numa gestão mais eficiente, com mais profissionalismo dessas corporações e comprometimento com os interesses nacionais. Não foi em vão. Diante da crise, após a quebra do banco Lehman Brothers, quando o crédito privado nacional e internacional secou, foram instituições como o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) que impediram que a economia viesse a naufragar na crise e o setor privado sucumbisse, desempregando milhões de trabalhadores. Agora, na retomada, são esses mesmos bancos que ofereceram e oferecem crédito para a indústria, a agricultura e a construção civil. Tanto é que sua participação no total de crédito de setembro de 2008 a outubro de 2009 revelou um crescimento de 41,2% contra 2,8% dos bancos privados nacionais e 8,8% dos privados internacionais.


Jorge Mattoso - Como esse processo se deu nas outras estatais?

Dilma – Desde o primeiro instante o governo Lula deu toda força à Petrobras. Os recursos da empresa destinados à pesquisa e ao desenvolvimento deram um salto de 201 milhões de dólares, em 2003, para quase 1 bilhão de dólares, em 2008. A companhia voltou a investir, aumentou a produção, abriu concursos para contratação de funcionários, encomendou plataformas, modernizou e ampliou refinarias, alem de construir uma grande infra-estrutura de gás natural e entrar, com intensidade, na era de biocombustíveis. Deixamos claro que nossa política era fortalecer a Petrobras, e não debilitá-la
        Resultado: a companhia – estimulada, recuperada e bem comandada – reagiu de forma impressionante, vive hoje um momento singular, é o orgulho do país, a maior empresa nacional e a quarta maior companhia do mundo ocidental. Entre as grandes petroleiras mundiais, é a segunda maior em valor de mercado. É um exemplo em tecnologia de ponta, descobriu as reservas do pré-sal, um feito extraordinário, que encheu de admiração mundo e orgulhou os brasileiros. É uma empresa com crédito e autoridade internacionais que, nos últimos meses levantou cerca de 31 bilhões de dólares em empréstimo e seus investimentos previstos até 2013 comam 174 bilhões de dólares. A Petrobras, enfim, voltou a dirigir a demanda para outros setores da economia nacional e parou de desviá-los para o exterior, sob a alegação de que não se conseguiria produzi-los aqui, da química à petroquímica, da indústria de equipamentos e de bens à reconstrução da indústria naval. Voltamos, depois de décadas, a investir em refino: estão em construção cinco grandes refinarias e convertemos, modernizamos e melhoramos a qualidade das existentes.

Jorge Mattoso – E como o governo Lula recebeu a administração centralizada, no que se refere à capacidade de execução?

Dilma - Paralelamente ao desmonte do planejamento, ocorreu outro fenômeno. Dentro da administração centralizada, foi conferida uma importância quase exclusiva aos mecanismos de controle. Todas as funções de controle, ao se institucionalizarem, ganharam salários maiores, seus integrantes foram incentivadas a melhorar seu desempenho, com carreiras adequadas. O que foi muito bom. Por outro lado, os órgãos executores, como tinham pouco a executar, foram reduzidos a uma situação precária. O que foi muito ruim. Como é sabido, devemos evitar a ocorrência de salários abaixo do razoável, por exemplo, a profissionais como engenheiros, professores, médicos, agentes de saúde e policiais, porque o resultado desse tipo de política compromete a gestão pública, a capacidade de executar obras e prestar serviços adequados à população.
        Corrigir esses desvios exige uma importante alteração: o estabelecimento de princípios meritocráticos e profissionais para reger o Estado. O que é a alma do Estado Eficiente? É a valorização do funcionário, sua formação e seu profissionalismo. Acreditamos que é preciso o funcionário avaliar, planejar, executar ou monitorar corretamente a execução.

Emir Sader – Na sua avaliação, nós já temos desenhado o modelo econômico e o Estado que o Brasil precisa no seu futuro?

Dilma – No oitavo ano do governo Lula podemos comprovar que o desenvolvimento com inclusão social é nosso modelo econômico. Aquele que considera que os 190 milhões de brasileiros e brasileiras são o centro do modelo. O nosso grande objetivo é eliminar a pobreza e proporcionar melhores condições de vida a toda população. Nós temos que criar um país de bem-estar social à moda brasileira. Para mim esse é o grande projeto de construção de uma economia moderna no país. É a ruptura com aquela idéia de que seria possível ter um país apenas para uma parte da população, que poderíamos ser uma grande potencia deixando nosso povo para trás. Essa idéia vem da época da ditadura, da época do mercado exclusivo, com os chamados bens de consumo duráveis destinados a uma minoria, quando se achava que seria possível ter um país para 30 milhões ou 40 milhões de pessoas.
        O grande desafio é ainda superar o peso dos 25 anos de estagnação da economia e das políticas sociais. O que nos move é a capacidade de atender às necessidades da população, ou seja o saneamento básico, seja a cultura, a inovação, a educação, a saúde, o acesso à internet. Nós vamos fazer, sabemos como fazer, aprendemos o caminho no governo Lula.

Emir Sader - Esse é o Estado de que o Brasil precisa no seu futuro ou precisamos de um outro tipo de Estado?

Dilma – O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor, para universalizar o saneamento, melhorar a segurança pública, a habitação, as condições de vida da população etc. Teremos de adotar novos e modernos mecanismos de gestão interna, que instituam o monitoramento, a verificação de relatórios e mecanismos adequados de controle, capazes de simplificar o atual emaranhado de exigências para se fazer qualquer coisa no Brasil. Não haverá obras se não simplificarmos os processos, tornando-os absolutamente transparentes. Só assim poderemos controlar os investimentos e, ao mesmo tempo, promover a universalização dos benefícios, viabilizando as obras que dependem intrinsecamente do Estado e as que devem ser feitas em parceria com o setor privado. Entre nossas tarefas estão: A universalização do esgoto sanitário, da coleta e do tratamento da água, as creches, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs); a segurança pública, combate às drogas, as ferrovias, rodovias, hidrelétricas etc.
        É fundamental aperfeiçoar o Estado para esse próximo passo, ate porque o setor privado está modernizado e competitivo. Hoje, o setor privado é eficiente, pois sobreviveu ficou mais forte, mais competitivo. Consolidar a meritocracia e o profissionalismo no Estado é fundamental para esse nosso passo. No governo Lula, recuperamos vários instrumentos de planejamento, como no caso da área de energia, conseguimos recompor o que se havia perdido, por meio da Empresa de Pesquisa Energética. Mas na área dos transportes, por exemplo, com a articulação dos diferentes modais, é necessário avançar mais.

Jorge Mattoso – De que outras formas a recomposição do Estado pode incidir no futuro do país?

Dilma – Essa recomposição é crucial para questão social e de desenvolvimento. Gostaria de ressaltar outro aspecto, ligado à educação, ao desenvolvimento cientifico e tecnológico e aos setores produtivos: a inovação. Esse desafio vai exigir a articulação das redes de pesquisa da academia, os institutos públicos tecnológicos e as empresas privadas. No Brasil, muitas vezes, considerava-se como transferência de tecnologia simplesmente a vinda de uma empresa estrangeira pra cá. Sem duvida é importante, mas, em vários segmentos nos interessa a transferência, para o setor privado nacional, da tecnologia existente lá de fora. A articulação do Estado, das instituições de pesquisa e da academia com o setor privado nacional é crucial para o processo. O Ceitec (empresa pública federal, de microeletrônica, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), o sistema nipo-brasileiro de TV digital e o projeto de transferência de tecnológica ferroviária do Trem de Alta Velocidade (TAV)m são mostras dessa necessidade inadiável.
        O processo de parceria entre setor público e setor privado é crucial para todos os caminhos a seguir. Será fundamental, por exemplo, a evolução do apoio ao micro e pequeno negócio no Brasil. Nossa proposta é fortalecer o micro e o pequeno negocio privado industrial e de serviços, no campo e na cidade, para consolidar realmente uma sociedade mais democrática e economicamente includente. Nesse sentido, a política de desenvolvimento da agricultura familiar é um exemplo de sucesso.

Jorge Mattoso - Como financiar os necessários investimentos em tecnologia e inovação?

Dilma - Não vamos crescer se não incorporarmos tecnologia de ponta e se não fizermos da agregação de valor uma idéia fica. Tem ainda a questão da inovação, que está fortemente associada à educação. Por sinal, considero que o ministro Fernando Haddad esta dando grandes contribuições para a revolução necessária na educação. A maior delas foi ter acabado com falsas contradições, como a falsa alternativa entre priorizar o ensino básico ou priorizar as universidades. Como se fosse possível ter qualidade no ensino básico, sem ter professores capacitados. Aonde iria parar o país se mantivéssemos as universidades sucateadas? Como se faz transferência de tecnologia sem institutos de pesquisa? Quem é o portador do desenvolvimento cientifico e tecnológico, se não houver uma política para formas doutores e mestres.
        O Estado precisa garantir, no próximo período, o dinheiro necessário para o desafio da educação e da pesquisa básica e aplicada. Alem das fontes derivadas do próprio crescimento, gostaria de destacar os volumosos recursos do pré-sal. Defendemos incansavelmente a adoção do sistema de partilha na legislação do pré-sal, porque esse modelo permitirá a dedicação de uma parcela substantiva dos recursos obtidos com a exploração do petróleo para educação, a inovação decorrente do desenvolvimento científico e tecnológico e o combate à pobreza.

Marco Aurélio – Há algo importante a ressaltar: o conjunto das políticas externas – porque elas não se resumem apenas na diplomacia, são também a política econômica, a política ambiental. É uma questão forte mostrar que nossa reinserção internacional faz parte de um projeto nacional. A presença do Brasil no mundo e o que fizemos aqui dentro, tem um traço muito particular: somos um país democrático. E um país que está enfrentando o tema da desigualdade de uma forma corajosa.

Dilma – Essa maneira democrática tem um aspecto que merece destaque no que se refere às relações econômicas externas. O fato é que o Brasil de hoje se caracteriza pelo respeito aos contratos firmados. Esse respeito deve ser visto como um valor decorrente do nosso compromisso com a estabilidade e de relações mais abertas e democráticas.
        Concordo com você. Como disse no inicio dessa entrevista, de fato, a nossa reinserção internacional faz parte do nosso projeto nacional. Consideramos imprescindível a relação construtiva, de país líder e responsável, em episódios que envolviam nossos irmãos latino-americanos. Da Bolívia, passando pelo Haiti, o Brasil tem demonstrado que só se é líder regional responsável, verdadeiramente, sem belicismos e com muita solidariedade e espírito de parceria.
        No que se refere às instituições da nossa democracia, temos uma relação democrática e explicita com o Congresso e com a imprensa também. Em relação aos países emergentes, eu diria, sem ser ufanista, que temos uma situação diferenciada, porque temos homogeneidade. Não temos conflitos étnicos, não temos guerras tribais, não temos conflitos fronteiriços, não temos guerras inter-regionais. Somos um país em que a questão étnica não perpassou a sociedade; temos um problema racial, mas a descriminação deve e esta sendo combatida pela sociedade e pelas ações do nosso governo, mas não temos um conflito de guerra.

Marco Aurélio – Uma questão que sensibiliza muito, hoje, é a da democratização da informação e da cultural. Nós tivemos, na historia da República, três grandes momentos de mudança no país, os anos 1930, o final dos 1950 e o começo dos 1960 e agora. É interessante observar que nas duas primeiras conjunturas, houve grandes movimentos de reflexão sobre o país. Caio Prado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque são figuras emblemáticas daqueles anos. Grandes expressões culturais, como Villa-Lobos,e mesmo o surgimento da arquitetura brasileira marcam aquele momento. Na virada dos anos 1950 para os 1960, temos Raymundo Faoro, Celso Furtado, o Iseb, a sociologia paulista e, do ponto de vista cultural, o cinema novo, a bossa nova, pintura e artes visuais. No momento atual, porém, vive-se um retraimento do pensamento crítico. Esse espaço deixado em branco pelo pensamento crítico está sendo indevidamente ocupado por uma subintelectualidade de direita, de muito baixa qualidade, que infesta a sociedade e o debate com os liberais, os neoliberais, a crítica da democracia, com “intelectuais” tipicamente midiáticos.  Evidentemente, essa não é uma tarefa do Estado, mas a democratização da informação e da cultura é algo que tem relação com ele: a socialização dos bens culturais, a valorização da produção cultural existente submersa pela indústria midiática etc.

Dilma - Uma ambigüidade no momento atual é que há, de fato, tudo isso que você menciona. Ao mesmo tempo, surge a possibilidade de uma comunicação muito mais democrática através da internet, que vem exercendo um papel menos técnico e instrumental e mais um papel político e cultural. Permite, assim, um posicionamento que rompe as relações tradicionais há muito estabelecidas. O acesso à banda larga é uma questão central de democratização, disponibilizada para o conjunto da sociedade. Esse é um dos desafios respondidos por iniciativas importantes, com destaque para o Plano Nacional de Banda Larga. Vamos garantir o acesso a internet, de forma mais imediata e barata, para todas as grandes concentrações populares urbanas, mas que nosso objetivo é atingir os rincões do país. Por quê? A banda larga tem um grande poder, pois é possível usar simultaneamente internet como telefone, televisão, cinema etc. Abre-se uma possibilidade de comunicação democrática. Os blogueiros, twitteiros, o Orkut, todas as redes sociais da internet constituem uma liberdade democrática que precisa ser levada em conta e respeitada.
        Nós somos de uma geração de leitores, de ouvintes de rádio, depois entramos na televisão... Noto, às vezes, uma sensação de nunca mais surgirá um compositor popular, um grande romancista ou um grande pensador. É uma atitude meio saudosista, porque isso não é verdadeiro, afinal eles estão por aí, sim. Estão entre os jovens, entre os usuários da internet que, hoje de alguma forma, têm acesso à cultura e criarão os novos produtos culturais, produzirão as inovações, as obras que falarão à nossa alma. Acredito que estamos vivendo um momento culturalmente explosivo. E acho que precisamos colaborar com a sua explosão. Se não somos nós, do governo, a atear fogo, pelo menos vamos soprar muito.