segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Barcarena ou a Detroit tropical?

 
    O gigantismo das indústrias de base instaladas na cidade de Barcarena, estado do Pará, impressionam qualquer cidadão do mundo.

      Andares e andares de ferro e aço onde a bauxita, alumina, alumínio, o ferro, boninas de fio de cobre e o caulim, transitam e são tratados como coadjuvantes do império construído. Uma inversão na valoração dos atores da cena insólita que se apresenta no meio das matas e dos rios que dominam a região.

      Um povo  habita as margens do rio e das indústrias, nas Vilas dos Cabanos, do Conde e de São Francisco.  Não é uma cidade com o território contiguo. A cidade se dividiu em três grandes áreas e na parte central o pólo industrial. Esta sociedade reside em moradias baixas, pequenas e estreitas.  Um povo moreno, bonito, mas de rostos embrutecidos e tristes, transitam pelas ruas acanhadas. Será o calor?

     Ou quando se percebe que na escola pública local as grades de ferro protegem as janelas e as salas de aula? Quais são os motivos que deixa triste o povo de Barcarena?
É uma tristeza sutil que rápida se revela para o olhar do curioso e que some diante da valentia daquela gente. Descendentes da Cabanagem!
Ou será por causa da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, construída no século XVII e que tem a porta principal de costas para o rio e, ainda, abriga os restos mortais do líder cabano, cônego Batista Campos? Ou será o espírito do líder rebelde que cochicha no pé de ouvido do povo, num alerta de que o rumo seguido é incerto para o povo da cidade?
Um conflito social é cristalino e atual, na cidade, o embate entre: preservação ecológica X indústria.
Algumas necessidades do povo da região: trabalho decentemente remunerado e serviço público de qualidade na dimensão adequada para os quase 130 mil habitantes. Hoje nem uma coisa e nem outra. Os empregos oferecidos pelas grandes indústrias são insuficientes. E a presença física do Estado é muito precária.

    Anualmente, bilhões de dólares são faturados pelas indústrias, mas a sociedade local ainda pouco vê dessa riqueza.

     Numa das margens do rio esta ocupada pelos portos: privados e o público. E na outra existe gente que vive.

    Nesta convivência entre a grande indústria e a natureza produziu  um grande acidente na fabrica de produção de pigmento, que contaminou as águas do Rio Capim Caulim.
As empresas de alumínio instaladas às margens do rio Pará, usam uma quantidade de água aduzida pelo complexo industrial – para cada quilo de alumínio, são necessários 100 mil litro de água.

     Desconheço se pagam pelo uso das águas dos rios e nem se as devolvem de forma tratada. Se não pagam e nem tratam pelo uso das águas deveriam as empresas pagar à sociedade local.
Transcrevo relatos do que é a cidade americana no instante atual:


Detroit: uma cidade de operários à beira da falência a cidade que outrora foi símbolo do poderio da indústria automobilística norte-americana, encontra-se à beira da falência com índices de desemprego superiores a 22% e um quadro sombrio pela frente

6 de junho de 2009


"O aprofundamento da crise capitalista, que gerou o quadro atual de recessão econômica mundial, trouxe graves conseqüências para a classe operária em todos os países. Os seus efeitos estão sendo particularmente devastadores para a maior classe operária do mundo: a classe operária norte-americana. Um exemplo disto está na indústria automobilística. Até o ano passado, esse segmento da economia norte-americana era responsável pela manutenção de 850 mil postos de trabalho diretos e cinco vezes esse número na criação de empregos indiretos. Entretanto, a crise abalou profundamente esse quadro. Mesmo com os pacotes bilionários aprovados pelo governo Obama para distribuição de dinheiro para essas empresas, foram demitidos dezenas de milhares de operários. A GM e a Chrysler, duas das três maiores empresas do ramo, faliram e tiveram que ser, de fato, estatizadas às pressas pelo governo. A Ford, mesmo demitindo, cortando salários e benefícios trabalhistas continuou “atolada” em dívidas.   
Outro sinal evidente dessa crise está em Detroit, a cidade-símbolo do poderio de sua indústria automobilística. Foi nessa cidade, localizada no estado de Michigan, que surgiram as primeiras indústrias automobilísticas norte-americanas e é lá onde se localizam atualmente as sedes das companhias General Motors, Ford e Chrysler.
A cidade que em 1950 teve uma população de cerca de 1,5 milhões de pessoas (sendo 81,6% negros), despencou para os atuais 916 mil habitantes. Com o maior número de inadimplentes e moradores desapropriados de suas casas no país, Detroit também possui um terço de sua população abaixo da linha da pobreza. O índice de desemprego é atualmente o maior nos Estados Unidos com cerca de 20%.
O resultado dessa situação desesperadora pode ser vista facilmente nos bairros da cidade Warren ou Sterling Heights, onde se concentra a maior população de operários da indústria automobilística no mundo. As filas de candidatos a receber o subsídio de desemprego vão até o exterior do edifício.
“John Thomas, de 28 anos, passa por lá todas as semanas, para se certificar que ainda tem direito aos benefícios de saúde, buscar o seu cheque de assistência alimentar e ver se aparece algum trabalho. Depois de ficar sem contrato numa empresa que montava assentos para automóveis, foi trabalhar para a construção, mas esse emprego não durou. Agora, não há nada. ‘Eu aceito qualquer coisa, tenho de pagar contas. Já várias vezes fui me oferecer ao McDonald’s e ao Taco Bell [duas cadeias de restaurantes de fast-food]’, diz.” (http:www.public.clix.pt.com, 31/05/09)
“Aqueles que procuram trabalho dão todos a mesma resposta: aceitam fazer qualquer coisa. O problema é que numa região que se especializou tão verticalmente na produção de automóveis, não sobram alternativas. ‘Dantes ainda tínhamos a construção, mas com a recessão nacional isso também acabou’, repara Tim Hyatt, que nos últimos tempos ganha dinheiro a cortar relvados no bairro onde moram os pais. Na fábrica da Chrysler, ganhava 23 dólares por hora e seguro de saúde, agora trabalha por sete dólares à hora, sem nenhum benefício. ‘Preciso agarrar tudo o que aparecer”, explica. ‘E rezar por um milagre’, acrescenta.” (idem)
O desenvolvimento da crise capitalista empurra cada vez mais a classe operária norte-americana para uma situação insustentável. Essa situação inevitavelmente criará as maiores mobilizações operárias no pós-guerra.
A desmesurada centralização e concentração do capital, acompanhadas de uma desmedida criação de capital fictício e uma vertiginosa queda da produção industrial são o retrato dos EUA, cada vez mais “a caminho de se tornar uma economia de terceiro mundo”.
No Século XX, Detroit e Michigan simbolizavam o poderio industrial dos EUA. Hoje simbolizam a economia dos off-shores.
A população de Detroit caiu para metade. Um quarto da cidade (56 km2) está deserto, com apenas algumas casas que ainda subsistem em ruas quase totalmente abandonadas. Se as autoridades locais conseguirem obter dinheiro de Washington, os responsáveis pelo planejamento urbano irão diminuir a área da cidade e estabelecer zonas rurais ou zonas verdes onde antes havia bairros.
O presidente Obama e os economistas não dizem senão banalidades acerca da recuperação. Mas como pode uma economia recuperar quando os seus líderes passaram mais de uma década a deslocar os empregos da classe média de elevada produtividade e valor para o estrangeiro, com o produto interno bruto que lhes está associado?
O Bureau of Labor Statistics [N. do T.: Agência de Estatísticas do Trabalho] emitiu este mês relatórios muito desanimadores. A quebra de postos de trabalho e número de horas trabalhadas atingiu valores recorde. No final do ano passado, a economia dos EUA tinha menos postos de trabalho que no fim de 1997, há 12 anos atrás. O número de horas trabalhadas no final do ano passado foi menor que no final de 1995, há 14 anos atrás.
A semana média de trabalho está a diminuir e situa-se atualmente em 33,1 horas para os trabalhadores que não ocupam cargos de chefia.
No que constitui um problema grave para a teoria econômica, a produtividade laboral ou produto por hora trabalhada e as remunerações divergiram acentuadamente ao longo da última década. Os salários não têm acompanhado o aumento da produtividade. Talvez a explicação esteja nos dados da produtividade. Susan Houseman descobriu que as estatísticas da produtividade laboral dos EUA poderão estar a refletir os baixos salários pagos no estrangeiro. Uma empresa dos EUA com produção nos EUA e na China, por exemplo, obtém resultados agregados em termos de produtividade do trabalho e remunerações. As estatísticas de produtividade medem neste caso a produtividade laboral das multinacionais e não a do trabalho nos EUA.
Charles McMillion assinalou que os custos por unidade de trabalho na realidade desceram em 2009, mas os custos não laborais subiram ao longo da década. Talvez o aumento de despesa não relacionada com trabalho reflita a queda do valor de troca do dólar no estrangeiro e o aumento da dependência de fatores de produção importados.
Economistas e políticos tendem a responsabilizar a gestão da indústria automóvel e os sindicatos pela decadência de Detroit. Contudo, a produção dos EUA caiu em toda a parte. A Evergreen Solar anunciou recentemente que irá deslocar a sua produção e montagem de painéis solares de Massachussetts para a China.
Um estudo do Department of Commerce dos EUA sobre a indústria das máquinas de precisão concluiu que os EUA estão em último lugar. A indústria dos EUA tem uma quota de mercado que está a diminuir e o menor aumento no valor das exportações. O Commerce Department inquiriu os utilizadores das máquinas de precisão e verificou que 70% das aquisições correspondiam a importações. Alguns dos distribuidores norte-americanos de máquinas de precisão nem sequer têm marcas norte-americanas.
A economia financeira que deveria substituir a economia industrial não está em parte alguma. Os EUA têm apenas 5 bancos na lista dos maiores 50 por valor das ações. O maior banco dos EUA, o JP Morgan Chase, está em sétimo lugar. A Alemanha tem sete bancos na lista dos maiores 50 e o Reino Unido e a França tem seis cada um. O Japão e a China têm cinco bancos na lista e, juntos, a Suíça e a Holanda, países pequenos, têm seis, com um valor combinado de ações superior em 1 185 bilhões de dólares aos cinco maiores bancos dos EUA.
Além disso, depois da fraude dos derivados perpetrada sobre bancos de todo o mundo por parte dos bancos de investimento norte-americanos, não há perspectiva de algum país confiar nos líderes da finança dos EUA.
Os líderes econômicos e políticos dos EUA usaram o seu poder para servir os seus próprios interesses à custa do povo americano e das suas aspirações econômicas. Mediante o seu rápido enriquecimento, levaram a economia dos EUA à ruína. Os EUA estão a caminho de se tornar uma economia de terceiro mundo".

* Paul Craig Roberts foi editor do Wall Street Journal e Secretário-assistente do Tesouro dos EUA.

     Pela proposta das autoridades locais, a ideia é fazer Detroit encolher e transformar suas áreas periféricas em grandes campos agrícolas. Em vez de carros e picapes, a cidade quer ficar conhecida pela produção de milho e trigo. “Isso vai acontecer já nos próximos dois ou três anos”, garante o prefeito Dave Bing, empossado no início do ano e que tem a dura missão de fazer Detroit renascer. 

     Milhares de casas foram abandonadas, em sua maioria por profissionais que trabalhavam na indústria automobilística e que perderam o emprego após o agravamento da crise do setor nos últimos anos. É possível percorrer alguns quarteirões sem encontrar pela frente pedestres ou automóveis. Fábricas estão caindo aos pedaços, lanchonetes apresentam letreiros apagados e muitas residências parecem ocupadas apenas por fantasmas. 

   Barcarena cidade do estado do Pará não poder ser a Detroit brasileira. O povo paraense deve refletir muito neste ano de 2010, no instante em que for sacrementar o voto. Sem preconceito, sem ódio, orgulho excessivo, o que está em jogo é o futuro das famílias paraenses.  





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