quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Muitas dúvidas e uma certeza.

Ontem assisti o programa eleitoral do candidato do PSDB. Não achei adequado e lembrei-me da entrevista concedida por ele ao Datena, antes do início do processo eleitoral. Nessa entrevista transmitida pela TV Bandeirantes, diante das imagens do entrevistado que revelou: cinismo, autoritarismo, frieza, sentimento de superioridade, indolência e falta de coragem.

Cinismo: diretor do programa e atores principais armaram uma cena com as filhas e filhos dos servidores da creche de dentro do palácio. A encenação foi transparente: as “professoras” que acompanhavam a cena  fazendo “xiuuu” para as crianças inocentes que não estavam compenetradas na encenação. E, no instante, do canto tradicional feito aos aniversariantes – era dia do aniversário do candidato - que em nenhum instante, causou emoção no aniversariante.

Autoritarismo: o ator principal amparou as mãos na grade  da creche, que o separava das crianças e olhava-as de cima para baixo, por todo o tempo da gravação. Em nenhum momento, o entrevistado fez um gesto de se aproximar das crianças ou se agachar para ficar na mesma altura delas.  E, ali havia um portão bem pertinho, era caminhar uns três ou quatro passos e transpor a grade, para brincar com elas ou agradecer a homenagem ensaiada. Não fez e nem fará gesto para as crianças que não são da sua prole. Infelicidade de quem teve a grande idéia do canto e da gravação neste cenário: governador de um lado e as crianças atrás do gradil.

A frieza demonstrada pelo homenageado não esboçou emoção diante da manifestação “espontânea” daqueles pequerruchos. Seus olhos não se encheram d’água ou um sorriso franco e agradecido dirigido àquelas crianças.

A demonstração do sentimento de superioridade do ator principal era cristalina. Não se abaixou para ficar na mesma altura das crianças e dirigia o seu olhar de cima para baixo. 

A indolência demonstrada pelo excesso de maquiagem aplicada no governador.

A gravação feita no período matutino – o entrevistador estava até com o brilho nos cabelos semi-molhados e o sol muito claro de São Paulo - típico das primeiras horas do dia. Deu-me a certeza de que a gravação foi na parte da manhã, horário do qual o governador estaria, normalmente, dormindo.

A falta de coragem quando de forma ambígua e vacilante assumiu a sua pré-candidatura e esquivou-se de algumas perguntas diretas sobre o tema. Sem a coragem de enfrentar o presidente Lula e seu governo. Apelou para a sua biografia. Qual será o exemplo de coragem que apresentará aos eleitores? Sua fuga do Brasil? Sua fuga do Chile? E as reais razões que jamais assumirá por essas fugas. Líder? Este é o tipo de liderança que o nosso país precisa? Um país gigante e de grandes ebulições sociais e interesses conflitantes? Não é o líder adequado para o momento histórico da sociedade brasileira.

A mídia deu ampla cobertura a entrevista do governador, mas deu pouquíssimo destaque a um fato de sua responsabilidade no comando do governo de São Paulo. E, aí, mais dúvidas geradas no meu pensamento.

O governador aplicou no mercado financeiro a módica quantia de 2 bilhões de reais destinados a saúde pública.

O dinheiro é público, logo, não poderia ser disposto, em desprezo a lei ou desviado de sua função social. Houve algum crime na decisão de aplicar o dinheiro publico no mercado financeiro? Não sei a resposta. Mas sei que achei uma decisão muito ruim para os paulistas.

Qual foi a modalidade de investimento do mercado financeiro e onde foi aplicado o dinheiro público? Ações ou títulos da dívida pública? O investimento apurou lucro ou prejuízo? Houve pagamento de comissão  para corretora de títulos ou para bancos? Se houve qual foi o beneficiário da comissão e o valor? Se a operação apresentou lucro também gerou a obrigação do pagamento de tributo federal? O tributo federal foi pago?

O que significa no mercado financeiro um aporte no valor de 2 bilhões de reais? Seria capaz de alavancar artificialmente o preço de alguma das ações de empresa privada ou pública? Se o investimento do governo  foi em ações, ações de que empresas? Como o mercado se comportou em relação a este papel durante o tempo do investimento? E quais corretoras operaram com ações dessa empresa? A falta deste dinheiro público no sistema de saúde de São Paulo gerou alguma falta de remédios, equipamentos, novos leitos? Há alguma hipótese da ausência deste dinheiro público ter causado alguma morte no sistema de saúde público? Se a resposta for positiva, pode ser estimada quantas mortes?

Penso que, regular a decisão de aplicar o dinheiro público também não foi, pois se fosse não teria o Ministério Público ingressado com uma ação judicial, para obrigar o governo estadual há desaplicar o recurso público e dar a ele o uso para o qual se destinava: na saúde pública.

Muitas dúvidas pairam sobre minha mente e uma certeza: Serra não merece ser presidente da República e nem receber o meu voto.





Marcatismo tupiniquim ou caso psiquiátrico?

Anotações feitas no passado mais permanece atual diante do comportamento de certa parte da mídia e da oposição política, neste ano de 2010.

Transcrevo uma mensagem que recebi do leitor João do Rio Branco, do interior do Paraná:

“- Cansei! Cansei! Cansei! Não agüento mais tentar ler jornal, ouvir rádio e assistir televisão. E tomar esta decisão, foi difícil. A minha geração cresceu aprendendo com o pai a importância de se ler o jornal do dia. Estar informado era condição para se sentir gente grande.

Mas voltando aos “grandes” da comunicação, chego à seguinte conclusão, diante da qual o presidente do STF tão zeloso de suas obrigações, certamente, adotará providencia.

A minha dúvida é a seguinte: - A mídia e parte da sociedade brasileira sofrem, padecem de alguma doença mental ou vivemos uma espécie de marcatismo tipo tupiniquim feita pela mídia contra o Lula e seus aliados?

A doença mental é definida: “variação mórbida do normal, variação esta capaz de produzir prejuízo no desempenho global da pessoa (social, ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive”. Observe como tenho razão, quase uma avaliação médica, quando digo que a mídia e alguns da sociedade padecem de doença mental.

1º sintoma a morbidez escrachada, rotineira, estampada pela mídia é o primeiro sintoma da doença. Morbidez que se revela nos generosos espaços dados a violência, ao pessimismo, ao reclamo injusto contra autoridades, em detrimento das pessoas que não compram jornais. Morbidez quando ignora mais de 55 milhões de brasileiros que ascenderam na pirâmide social. Que despreza a tão reclamada de outrora ausência de infra-estrutura no Brasil, mais ou menos, a 8 anos passados era constante a mídia e empresários queixarem-se da falta de porto, aeroporto, estrada, ferrovia, etc Hoje apesar do PAC a mídia ridiculariza o ato de governo e chama o programa de farsa eleitoreira. É ou não é um gesto que revela a dupla personalidade?

2º sintoma a produção do prejuízo no desempenho global do ente. Os jornais vêm perdendo leitores para outras formas de mídias é uma verdade, mas, também, como conseqüência da doença mental.

A providência que clamo ao ministro do STF é que ele chame um psiquiatra ou então indique algum para tratar destes necessitados de auxilio médico especializado. Ou que dê fim ao marcatismo tupiniquim.

Pois quem incentiva a campanha antecipada são os jornais e as televisões, não as autoridades públicas. São eles que instigam o leitor a interpretar que todo ato do governo é eleitoreiro. Autoridades públicas prestam contas a sociedade dos seus atos, logo, cumpre um dever, uma obrigação, devida ao povo que delegou o poder. Este é o motivo que movimenta a autoridade pública: prestar contas.

O 3º sintoma da doença mental é não ver a realidade como ela é além de um profundo desejo de convencer outra pessoa de que a realidade é outra.  Quem não se lembra da vilã Yvone da novela “Caminho das Índias”.

Então senhor Gilmar Mendes tome a providência adequada ao cargo que transitoriamente ocupa e deixa o homem trabaia. Isto também serve para o TCU também e, principalmente, para a mídia e partidos da oposição, se não desejarem que sejão tomados pela loucura completa ou cheguem à falência. Dilma boa noite e boa sorte”.


Autoritarismo e baixa organização política no Brasil.

   Minha reflexão tem por parâmetro a história política da sociedade brasileira, no aspecto temporal. Onde tentarei demonstrar que somos uma sociedade jovem e inexperiente quando se trata da democracia, bem como, que na nossa genética temos o cromossomo do autoritarismo. Presença ainda influente ao direcionar o rumo da sociedade.
     Neste princípio do século XXI quando a democracia enquanto doutrina política, passa por um debate teórico pelo mundo sobre sua revitalização e eficácia. O Brasil enfrenta um dilema no campo do mecanismo de funcionamento do regime de poder político. Este dilema é consenso na sociedade: é preciso mudar. Mas o dissenso acontece é na hora da escolha do rumo a seguir.
      Na maior parte do tempo de nossa evolução enquanto sociedade, o destino determinou uma convivência, com formas de poder político de características próprias dos regimes autoritários. Desagregando o tempo de vida da sociedade brasileira, partindo do descobrimento do Brasil, verificamos que: vivemos 471 anos sob  formas de poder político de característica autoritária e só 38 anos de democracia.
     Eis os fatos históricos que sustentam a premissa inicial de que a sociedade brasileira ainda é inexperiente, quando o assunto é democracia. E como já disse Saramago: “Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. É assim mesmo que estamos vivendo”.(1)
     Estamos ainda impregnados de traços autoritários, tanto no que tange o desempenho e funcionamento do regime do poder político vigente, bem como, nas relações interpessoais na sociedade, principalmente, quando se dão entre entes sociais que ocupam patamares distintos da pirâmide que compõe a estrutura social.
    Ressalto dois fenômenos sociais decorrente desta nossa pouca experiência com a democracia. O primeiro é o surgimento de um desencanto precoce com a forma de poder político denominado: democracia; sem que, efetivamente, tenhamos convivido com ela. E o segundo fenômeno social também precoce é o descrédito da sociedade diante do poder transformador da realidade através da ação política.
    Outras conseqüências no meio social por força de nosso passado histórico são: a) o risco do restabelecimento de um regime autoritário travestido numa sombra de democracia; b) grande resistência a criação de novas e/ou inovações as tradicionais formas de poder político, preferindo o processo de importação das idéias; c) uma baixa organização política e capacidade de mobilização da sociedade.
     Sem atribuir qualquer tipo de ordem de grandeza e de valor de importância, entre as conseqüências descritas. Elejo a conseqüência: baixa organização política e capacidade de mobilização no país. Para continuar adiante esta reflexão.
      Ainda com base na história brasileira, identifico que nestes 509 anos, alguns episódios demonstraram que a sociedade brasileira conseguiu reagir contra o poder político instituído. E que essas reações sociais diante do poder político dominante, pavimentaram novas trilhas e caminhos, que levaram a sociedade brasileira a promover pequenos ajustes e reajustes e ondas de progressos em nossa realidade. Contudo, essas reações não são lineares, constantes ao longo da história da sociedade. Existe um esgarçamento, uma desmobilização social entre um momento e outro.
     Alguns dos movimentos sociais que se destacaram na sociedade brasileira são os seguintes: abolicionistas, a Cabinada, Balaida e a Revolta Praieira, as guerras camponesas do Contestado e Canudos, a Inconfidência Mineira, o movimento operário no início do século XX, a Coluna Prestes, a campanha do “O Petróleo é Nosso”, o movimento dos metalúrgicos do ABCD, movimento estudantil, dos artistas e acadêmicos no final dos anos 60 até a abertura política, o movimento do trabalhador rural e das pessoas que clamam pela necessidade da reforma agrária iniciado nos anos 70, o movimento pelas “Diretas Já” e os “Caras Pintadas”.  
     A organização política no Brasil instituída na Constituição Federal é uma República Federativa do tipo presidencialista. Mas algumas indagações inquietam os meus pensamentos, quando a letra fria da Constituição é confrontada com a realidade da sociedade.
     São muitas as inquietações: - Somos concretamente uma República, na forma em que foi concebida pelos teóricos?   - O modelo atual de federação é adequado ao Brasil, diante da população e diferenças regionais do Brasil?  - Os partidos políticos vêm cumprindo o seu papel na sociedade? – A representação da população nas casas legislativas é equilibrada? – Precisamos mesmo do modelo do Poder Legislativo bicameral? – Os impasses entre os poderes Executivo e Legislativo possuem instrumentos de resolução menos espúria? – É possível adotarmos um modelo misto entre Presidencialismo e Parlamentarismo? – Não é o momento de pensarmos em processos de inovação das instituições, que envolvam a sociedade e a co- responsabilizem pela implantação, avaliação e monitoramento das políticas públicas? – A composição das cortes de justiça mais elevadas do país é proporcional a população nacional e adequada as necessidades do povo brasileiro? – Faltam canais de transmissão institucionais que aproximem mais a sociedade e os membros dos poderes instituídos no Brasil?
     Estas perguntas ainda sem respostas, no meu entender, se resumem na pouca participação da sociedade nos fóruns decisórios dos temas estruturantes e de interesse da sociedade. Existe um enorme distanciamento entre a maior parte da população e os executores do destino do país. Verdadeiro quinhão da herança recebida pela sociedade advinda dos regimes autoritários.
     Devemos encontrar uma saída para avançar e nós livrar desta herança. Construir uma sociedade melhor é nosso dever e único objetivo para quem exerce o poder político.
     Devemos construir a saída através de um processo coletivo, inovador e que aprofunde as relações entre a sociedade e governo, bem como, revitalize a nossa democracia. São desafios do instante presente e uma obra que só se pode realizar com muita abnegação e firme determinação da sociedade renunciando a herança autoritária e rejeitar o fatalismo histórico. A sociedade brasileira já demonstrou sua capacidade de reação no passado. Cabe a sociedade atual construir um futuro melhor para as gerações seguintes.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Barcarena ou a Detroit tropical?

 
    O gigantismo das indústrias de base instaladas na cidade de Barcarena, estado do Pará, impressionam qualquer cidadão do mundo.

      Andares e andares de ferro e aço onde a bauxita, alumina, alumínio, o ferro, boninas de fio de cobre e o caulim, transitam e são tratados como coadjuvantes do império construído. Uma inversão na valoração dos atores da cena insólita que se apresenta no meio das matas e dos rios que dominam a região.

      Um povo  habita as margens do rio e das indústrias, nas Vilas dos Cabanos, do Conde e de São Francisco.  Não é uma cidade com o território contiguo. A cidade se dividiu em três grandes áreas e na parte central o pólo industrial. Esta sociedade reside em moradias baixas, pequenas e estreitas.  Um povo moreno, bonito, mas de rostos embrutecidos e tristes, transitam pelas ruas acanhadas. Será o calor?

     Ou quando se percebe que na escola pública local as grades de ferro protegem as janelas e as salas de aula? Quais são os motivos que deixa triste o povo de Barcarena?
É uma tristeza sutil que rápida se revela para o olhar do curioso e que some diante da valentia daquela gente. Descendentes da Cabanagem!
Ou será por causa da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, construída no século XVII e que tem a porta principal de costas para o rio e, ainda, abriga os restos mortais do líder cabano, cônego Batista Campos? Ou será o espírito do líder rebelde que cochicha no pé de ouvido do povo, num alerta de que o rumo seguido é incerto para o povo da cidade?
Um conflito social é cristalino e atual, na cidade, o embate entre: preservação ecológica X indústria.
Algumas necessidades do povo da região: trabalho decentemente remunerado e serviço público de qualidade na dimensão adequada para os quase 130 mil habitantes. Hoje nem uma coisa e nem outra. Os empregos oferecidos pelas grandes indústrias são insuficientes. E a presença física do Estado é muito precária.

    Anualmente, bilhões de dólares são faturados pelas indústrias, mas a sociedade local ainda pouco vê dessa riqueza.

     Numa das margens do rio esta ocupada pelos portos: privados e o público. E na outra existe gente que vive.

    Nesta convivência entre a grande indústria e a natureza produziu  um grande acidente na fabrica de produção de pigmento, que contaminou as águas do Rio Capim Caulim.
As empresas de alumínio instaladas às margens do rio Pará, usam uma quantidade de água aduzida pelo complexo industrial – para cada quilo de alumínio, são necessários 100 mil litro de água.

     Desconheço se pagam pelo uso das águas dos rios e nem se as devolvem de forma tratada. Se não pagam e nem tratam pelo uso das águas deveriam as empresas pagar à sociedade local.
Transcrevo relatos do que é a cidade americana no instante atual:


Detroit: uma cidade de operários à beira da falência a cidade que outrora foi símbolo do poderio da indústria automobilística norte-americana, encontra-se à beira da falência com índices de desemprego superiores a 22% e um quadro sombrio pela frente

6 de junho de 2009


"O aprofundamento da crise capitalista, que gerou o quadro atual de recessão econômica mundial, trouxe graves conseqüências para a classe operária em todos os países. Os seus efeitos estão sendo particularmente devastadores para a maior classe operária do mundo: a classe operária norte-americana. Um exemplo disto está na indústria automobilística. Até o ano passado, esse segmento da economia norte-americana era responsável pela manutenção de 850 mil postos de trabalho diretos e cinco vezes esse número na criação de empregos indiretos. Entretanto, a crise abalou profundamente esse quadro. Mesmo com os pacotes bilionários aprovados pelo governo Obama para distribuição de dinheiro para essas empresas, foram demitidos dezenas de milhares de operários. A GM e a Chrysler, duas das três maiores empresas do ramo, faliram e tiveram que ser, de fato, estatizadas às pressas pelo governo. A Ford, mesmo demitindo, cortando salários e benefícios trabalhistas continuou “atolada” em dívidas.   
Outro sinal evidente dessa crise está em Detroit, a cidade-símbolo do poderio de sua indústria automobilística. Foi nessa cidade, localizada no estado de Michigan, que surgiram as primeiras indústrias automobilísticas norte-americanas e é lá onde se localizam atualmente as sedes das companhias General Motors, Ford e Chrysler.
A cidade que em 1950 teve uma população de cerca de 1,5 milhões de pessoas (sendo 81,6% negros), despencou para os atuais 916 mil habitantes. Com o maior número de inadimplentes e moradores desapropriados de suas casas no país, Detroit também possui um terço de sua população abaixo da linha da pobreza. O índice de desemprego é atualmente o maior nos Estados Unidos com cerca de 20%.
O resultado dessa situação desesperadora pode ser vista facilmente nos bairros da cidade Warren ou Sterling Heights, onde se concentra a maior população de operários da indústria automobilística no mundo. As filas de candidatos a receber o subsídio de desemprego vão até o exterior do edifício.
“John Thomas, de 28 anos, passa por lá todas as semanas, para se certificar que ainda tem direito aos benefícios de saúde, buscar o seu cheque de assistência alimentar e ver se aparece algum trabalho. Depois de ficar sem contrato numa empresa que montava assentos para automóveis, foi trabalhar para a construção, mas esse emprego não durou. Agora, não há nada. ‘Eu aceito qualquer coisa, tenho de pagar contas. Já várias vezes fui me oferecer ao McDonald’s e ao Taco Bell [duas cadeias de restaurantes de fast-food]’, diz.” (http:www.public.clix.pt.com, 31/05/09)
“Aqueles que procuram trabalho dão todos a mesma resposta: aceitam fazer qualquer coisa. O problema é que numa região que se especializou tão verticalmente na produção de automóveis, não sobram alternativas. ‘Dantes ainda tínhamos a construção, mas com a recessão nacional isso também acabou’, repara Tim Hyatt, que nos últimos tempos ganha dinheiro a cortar relvados no bairro onde moram os pais. Na fábrica da Chrysler, ganhava 23 dólares por hora e seguro de saúde, agora trabalha por sete dólares à hora, sem nenhum benefício. ‘Preciso agarrar tudo o que aparecer”, explica. ‘E rezar por um milagre’, acrescenta.” (idem)
O desenvolvimento da crise capitalista empurra cada vez mais a classe operária norte-americana para uma situação insustentável. Essa situação inevitavelmente criará as maiores mobilizações operárias no pós-guerra.
A desmesurada centralização e concentração do capital, acompanhadas de uma desmedida criação de capital fictício e uma vertiginosa queda da produção industrial são o retrato dos EUA, cada vez mais “a caminho de se tornar uma economia de terceiro mundo”.
No Século XX, Detroit e Michigan simbolizavam o poderio industrial dos EUA. Hoje simbolizam a economia dos off-shores.
A população de Detroit caiu para metade. Um quarto da cidade (56 km2) está deserto, com apenas algumas casas que ainda subsistem em ruas quase totalmente abandonadas. Se as autoridades locais conseguirem obter dinheiro de Washington, os responsáveis pelo planejamento urbano irão diminuir a área da cidade e estabelecer zonas rurais ou zonas verdes onde antes havia bairros.
O presidente Obama e os economistas não dizem senão banalidades acerca da recuperação. Mas como pode uma economia recuperar quando os seus líderes passaram mais de uma década a deslocar os empregos da classe média de elevada produtividade e valor para o estrangeiro, com o produto interno bruto que lhes está associado?
O Bureau of Labor Statistics [N. do T.: Agência de Estatísticas do Trabalho] emitiu este mês relatórios muito desanimadores. A quebra de postos de trabalho e número de horas trabalhadas atingiu valores recorde. No final do ano passado, a economia dos EUA tinha menos postos de trabalho que no fim de 1997, há 12 anos atrás. O número de horas trabalhadas no final do ano passado foi menor que no final de 1995, há 14 anos atrás.
A semana média de trabalho está a diminuir e situa-se atualmente em 33,1 horas para os trabalhadores que não ocupam cargos de chefia.
No que constitui um problema grave para a teoria econômica, a produtividade laboral ou produto por hora trabalhada e as remunerações divergiram acentuadamente ao longo da última década. Os salários não têm acompanhado o aumento da produtividade. Talvez a explicação esteja nos dados da produtividade. Susan Houseman descobriu que as estatísticas da produtividade laboral dos EUA poderão estar a refletir os baixos salários pagos no estrangeiro. Uma empresa dos EUA com produção nos EUA e na China, por exemplo, obtém resultados agregados em termos de produtividade do trabalho e remunerações. As estatísticas de produtividade medem neste caso a produtividade laboral das multinacionais e não a do trabalho nos EUA.
Charles McMillion assinalou que os custos por unidade de trabalho na realidade desceram em 2009, mas os custos não laborais subiram ao longo da década. Talvez o aumento de despesa não relacionada com trabalho reflita a queda do valor de troca do dólar no estrangeiro e o aumento da dependência de fatores de produção importados.
Economistas e políticos tendem a responsabilizar a gestão da indústria automóvel e os sindicatos pela decadência de Detroit. Contudo, a produção dos EUA caiu em toda a parte. A Evergreen Solar anunciou recentemente que irá deslocar a sua produção e montagem de painéis solares de Massachussetts para a China.
Um estudo do Department of Commerce dos EUA sobre a indústria das máquinas de precisão concluiu que os EUA estão em último lugar. A indústria dos EUA tem uma quota de mercado que está a diminuir e o menor aumento no valor das exportações. O Commerce Department inquiriu os utilizadores das máquinas de precisão e verificou que 70% das aquisições correspondiam a importações. Alguns dos distribuidores norte-americanos de máquinas de precisão nem sequer têm marcas norte-americanas.
A economia financeira que deveria substituir a economia industrial não está em parte alguma. Os EUA têm apenas 5 bancos na lista dos maiores 50 por valor das ações. O maior banco dos EUA, o JP Morgan Chase, está em sétimo lugar. A Alemanha tem sete bancos na lista dos maiores 50 e o Reino Unido e a França tem seis cada um. O Japão e a China têm cinco bancos na lista e, juntos, a Suíça e a Holanda, países pequenos, têm seis, com um valor combinado de ações superior em 1 185 bilhões de dólares aos cinco maiores bancos dos EUA.
Além disso, depois da fraude dos derivados perpetrada sobre bancos de todo o mundo por parte dos bancos de investimento norte-americanos, não há perspectiva de algum país confiar nos líderes da finança dos EUA.
Os líderes econômicos e políticos dos EUA usaram o seu poder para servir os seus próprios interesses à custa do povo americano e das suas aspirações econômicas. Mediante o seu rápido enriquecimento, levaram a economia dos EUA à ruína. Os EUA estão a caminho de se tornar uma economia de terceiro mundo".

* Paul Craig Roberts foi editor do Wall Street Journal e Secretário-assistente do Tesouro dos EUA.

     Pela proposta das autoridades locais, a ideia é fazer Detroit encolher e transformar suas áreas periféricas em grandes campos agrícolas. Em vez de carros e picapes, a cidade quer ficar conhecida pela produção de milho e trigo. “Isso vai acontecer já nos próximos dois ou três anos”, garante o prefeito Dave Bing, empossado no início do ano e que tem a dura missão de fazer Detroit renascer. 

     Milhares de casas foram abandonadas, em sua maioria por profissionais que trabalhavam na indústria automobilística e que perderam o emprego após o agravamento da crise do setor nos últimos anos. É possível percorrer alguns quarteirões sem encontrar pela frente pedestres ou automóveis. Fábricas estão caindo aos pedaços, lanchonetes apresentam letreiros apagados e muitas residências parecem ocupadas apenas por fantasmas. 

   Barcarena cidade do estado do Pará não poder ser a Detroit brasileira. O povo paraense deve refletir muito neste ano de 2010, no instante em que for sacrementar o voto. Sem preconceito, sem ódio, orgulho excessivo, o que está em jogo é o futuro das famílias paraenses.  





A formação dos indivíduos no mundo contemporâneo

 
              O planeta Terra abriga e sustenta 6,5 bilhões de uma espécie de mamífero, que desenvolveu habilidades para alçar uma posição de dominação de um dos elementos: neste caso o sólido - que compõe e possibilita a vida do ser humano. Dominação essa que não se restringe ao espaço geográfico, mas dominação sobre as outras espécies do mundo animal.
            O desafio lançado que é o discorrer sobre a formação dos indivíduos no mundo contemporâneo. Necessita abordar, preliminarmente, uma definição de qual tipo de formação, estamos aqui tratando. Formação moral? Formação profissional? Formação intelectual? Formação emocional? Ou é o caso de tratarmos das quatro hipóteses de formação depositadas nas costas deste animal chamado: ser humano?
            A dúvida é pertinente, pois para cada tipo de formação se merece uma abordagem distinta. Que admita apontar espaços da formação tradicionais e modos de transmissão dos conhecimentos que moldaram os indivíduos para conviverem em sociedade neste Século XXI.
             Se os espaços da formação tradicionais do ser humano e aceitos pelo senso comum da academia são: família, igreja, escola, Estado, símbolos, tradição, cultura, superação individual, genética e sentimentos individuais ou coletivos. Penso que é bom avaliar o grau do bem estar, nível de felicidade e de realizações imateriais e materiais, ou seja, qual é o resultado concreto que estes espaços da formação do individuo, ao longo do tempo da história da vida em sociedade.
             Avançamos em muitos aspectos, antes mesmo de solucionarmos determinadas situações que afligem e influenciam de forma determinante a vida do ser humano como, por exemplo: a descoberta de medicamentos aumentou a longevidade da vida do indivíduo, contudo, não resolvemos uma situação básica que é a de garantir que todos os seres humanos tenham trabalho e alimento.
            Avançamos de forma extraordinária na tecnologia, nos meios de comunicação, transporte, medicina e no acúmulo de conhecimentos. Mas os problemas, como já dito, fome e trabalho não foram solucionados.
            Isto são dois exemplos mais vale descrever outros: como violência, guerra, egoísmo, preconceitos nas mais variadas formas. A porta do século XXI não se extinguiu de forma definitiva o tráfico do ser humano, ou seja, a escravidão.
             O contrato social funcionou? As promessas capitalistas ou comunistas funcionaram?
             A sociedade do século XXI e seus 6,5 bilhões de seres humanos viventes, conviveram com os seguintes dados reais e concretos fornecidos pela ONU, OIT, OMS, IBGE e Banco Mundial: 925 milhões de pessoas passam fome no mundo; 19% da população mundial vive com menos de 1 dólar por dia, o que significa abaixo da linha da pobreza;  12% das crianças estão fora das escolas;  58 milhões portadores do vírus da AIDS;  2,5 milhões homens, mulheres e crianças são vitimas do trafico humano; 2,7 bilhões vivem entre 1 a 2 dólares por dia; 44 mil pessoas morreram de forma violenta no Brasil, ano 2008; 1,1 milhão de pessoas praticam suicido por ano; 700 milhões padecem de obesidade.
            Mesmo que os fatos se confundam, a verdade é que dos 6,5 bilhões da população mundial, mais da metade dessa população convive com alguma deficiência, carência, violência, sofrimento e infelicidade, quando não com todas elas ou mais de uma, ao mesmo tempo.
            Se formos avaliar o resultado da capacitação recebida por esta sociedade no critério nota pelos resultados alcançados. Posso afirmar que não atingimos a média de aprovação de inúmeras universidades que é de cinco, ou seja, como mais da metade população mundial padece de um grande mal, fomos reprovados como capacitadores dos indivíduos, pois produzimos um resultado que não beneficia de forma positiva a metade da população mundial.
          Isto, avaliando de forma positiva, já que dos 40% da população mundial que não passa fome ou padece de grande problema social. Dentre estes 40% quanto é feliz? Quantos realizam sonhos sem precisar pedir nada a ninguém? Quantos detêm a riqueza produzida e em que proporção é dividida entre os 6,5 bilhões? Quantos têm perspectiva ilimitada de crescer materialmente, intelectualmente e emocionalmente? Quantos são honestos e cumpridores dos seus deveres com a sociedade, com o Estado e a família? Quantos cursaram pós-graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado? Quantos já viajaram para outro país de férias? Quantos entraram num teatro? Quantos conhecem a História Universal e a evolução da sociedade? Quantos possuem consciência do seu papel no mundo? Não existem dados para essas perguntas.
            Mas, intuo que dos 40% da população mundial entre 25% a 30% estão distantes de responderem de forma afirmativa a estas minhas questões. O quanto sobra de seres humanos que podem dispor de todos os bens, serviços, qualidade de vida, prestação de serviços na área da saúde, do lazer, da cultura, etc.? Talvez, 600 milhões de habitantes espalhados entre os cinco continentes do planeta. Uma estimativa muito otimista!
            Estimasse que 1,3 bilhões de jovens vivem no mundo, na atualidade. Estimasse que a população mundial alcançasse a cifra de 9,5 bilhões de vidas até 2030. E o planeta dá sinais do mau uso do solo, do abuso com despejo de poluentes no ar, na água e em outras situações que envolvem a natureza. Logo, a tendência é que os resultados se agravem e as disparidades nas situações que envolvem a vida e a qualidade da vida do ser humano aumentem, caso não mudemos nossa forma de pensar e agir em relação ao mundo e ao ser humano.
           Assim neste pequeno retrato da sociedade da atualidade. Não encontro a certeza confortável para afirmar quais são os melhores formadores e capacitadores do ser humano. Posso afirmar que maior é a quantidade do ser vivo invisível que denominamos de bactérias. As bactérias por enquanto sempre vencem o homem. Ser vencido por essa espécie é fato não contestado por qualquer cientista. Mas o triste é ver que o homem pode ser vencido por sua própria espécie.
           A formação do indivíduo contemporâneo deve evitar o agravamento das carências, das deficiências, das dores, dos sofrimentos que são impingidos à esmagadora maioria da população mundial. E os canais desta formação, que deve ser transformadora, na forma de pensar e agir do ser humano. É uma responsabilidade de todas as instituições públicas e privadas e, principalmente, desta minoria de seres humanos que gozam dos privilégios da vida.  

Estado, Sociedade e Mercado



                                                                                             Autor: João Sicsú

As eleições presidenciais de 1989 marcaram o começo da mais intensa campanha pela destruição do Estado brasileiro e de qualquer projeto de desenvolvimento. Fernando Collor foi o abre-alas desse movimento. Fernando Henrique Cardoso colocou todas as energias dos seus governos (de 1995 a 2002) na mesma empreitada. Somente em 2002, com a eleição do presidente Lula, vieram os primeiros sinais de interrupção desse processo. Sinais mais claros de que o Estado entraria em rota de reconstrução apareceram nas eleições de 2006. Hoje, o Estado está em reconstituição.
A fórmula aplicada durante os governos Collor e FHC foi sempre a mesma. Primeiro, com intensa propaganda midiática, desmoralizava-se a entidade (empresa estatal ou instituição pública) que deveria ser vendida, extinta ou atrofiada. Instrumentos invisíveis para o cidadão comum eram utilizados para fazer a instituição definhar, antes de ser levada a leilão. Também o mais valioso ativo, aquele que faz o Estado cumprir suas funções, o servidor público, foi desmotivado e desmoralizado - apelidado de "marajá", que significava no imaginário popular quem recebia, mas não trabalhava.
Empresas estatais foram praticamente doadas; o BNDES foi transformando em banco de investimento (com características de banco privado); a Petrobras quase virou PetroBRAX; o ensino público, gratuito e de qualidade, foi atacado por dentro e por fora. Por dentro, foi atacado através do corte de recursos para investimentos e com a política de defasagem real de salários de professores e funcionários. Por fora, foi atacado com a propaganda de que nas universidades públicas somente estudavam os filhos dos ricos, enquanto os pobres eram ignorados. 
O sistema público de previdência era desmoralizado com a propaganda diária sobre as "filas do INSS" e, por dentro, era enfraquecido com a redução real do valor dos benefícios pagos.
Hoje não há leilão de empresas estatais. No período 2003-2008, os desembolsos anuais do BNDES cresceram, em termos reais, mais que 60% em relação a 1996-2002. 
A Previdência Social pagou, em dezembro de 2002, 21 milhões de benefícios. Em dezembro de 2008, pagou mais de 26 milhões. Hoje, o valor médio dos benefícios pagos é quase 20% maior, em termos reais, do que era em 2002.
 No período 2003-2007, foram criadas 12 universidades públicas federais. Em média, no período 1995-2002, a Petrobras investia por ano 5,6 bilhões de dólares. Em 2003-2008, a média foi de 16,2 bilhões.
Um projeto de desenvolvimento não pode existir sem a liderança do Estado e o envolvimento da sociedade e da iniciativa privada. Portanto, destruir o Estado é o melhor caminho para se destruir o sonho de desenvolvimento de uma sociedade. 
Mas para que serve o Estado? Para aqueles que acreditam que o desenvolvimento vem dos países desenvolvidos para os países atrasados através de um transbordamento de oportunidades de negócios, o Estado tem um papel muito discreto e um projeto de desenvolvimento não faz sentido. Para aqueles que observam a história verdadeira das nações e, portanto, percebem que o desenvolvimento é um projeto nacional, o Estado é a única entidade capaz de liderar a implantação desse projeto.
Isso porque o Estado é capaz de promover a equalização de oportunidades educacionais e de acesso à saúde. O Estado é capaz de orientar a produção e o investimento privados, que devem crescer de forma permanente, em condições de valorização do ambiente. O Estado é capaz de oferecer segurança de vida a todos, através de um sistema de previdência e de assistência social. O Estado é capaz de promover uma política de moradia digna, direito do cidadão. O Estado é capaz de arrecadar impostos de forma progressiva e gastá-los da mesma maneira, estabelecendo uma distribuição da renda menos desigual. O Estado é capaz de programar políticas anticíclicas, para manter o emprego como um direito. O Estado é capaz de desenvolver e possuir um sistema de defesa nacional tecnologicamente avançado.
Que papel cabe à iniciativa privada, ou ao mercado? O mercado é capaz de produzir alimentos em quantidade suficiente com qualidade cada vez melhor. A iniciativa privada é capaz de produzir bens de consumo para atender às mais diferentes demandas da sociedade. O mercado é capaz de realizar investimentos vultosos e com alta densidade tecnológica. A iniciativa privada é capaz de distribuir bens e serviços, capilarizando o comércio. A iniciativa privada é capaz de participar de projetos grandiosos de construção de moradias, infraestrutura e outros. O mercado é capaz de gerar milhões de empregos e formalizar relações de trabalho, gerando direitos e garantias sociais. A iniciativa privada é capaz de construir bancos e instituições aptos a ofertar crédito e outros serviços. A iniciativa privada é capaz de construir navios, aviões e plataformas de extração de petróleo.
Estado, sociedade e mercado formam o tripé institucional de um projeto de desenvolvimento. Basta que um pé seja enfraquecido para que o projeto venha ao chão. As três partes devem atuar livremente, de forma a produzir sinergias desenvolvimentistas. Por fim, Estado, sociedade e mercado não são concorrentes entre si, mas interagem e constituem os laços fundamentais de um projeto nacional de desenvolvimento.






sexta-feira, 10 de setembro de 2010

“A economia e a vida sem a política?”

                                                                           Por:         Marcio Pochmann  (1)

“Não acredito nos economistas que dizem que a economia deve ser aplicada sem influência da política”.

Maria da Conceição Tavares.

     Nas aplicações dos conhecimentos em áreas das humanidades como economia e direito sobrevive o dogma que não se deve permitir a influência da política na descoberta e no processo de aplicação do conhecimento.

       Tratar o processo de pesquisa e da gestão da administração pública, aplicando o isolamento da política, é impossível, um fetiche que pouco contribui com o debate nacional e com o avanço da sociedade.

     Separar a visão diante do fato social ou do objeto de pesquisa ou do ato da decisão de implantar a política pública: a política.  Como o filosofo grego prelecionou na antiguidade “O ser humano é um animal político”.

        Vejamos um exemplo prático da influencia da política no ato da decisão, de quem exerce o poder da administração pública é exemplificado através do orçamento da Prefeitura de São Paulo, destinado à Secretaria do Trabalho:

* ano 2004 (último ano da gestão Marta Suplicy do PT), teve empenhados R$ 190 milhões gastos na Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento. 
* ano de 2008 (gestão Kassab), o orçamento  municipal previa R$ 137 milhões para a secretaria, mas menos de R$ 40 milhões foram gastos. 
* ano de 2009, destinava R$ 127 milhões, depois atualizados para R$ 130 milhões. Mas até 15 de dezembro apenas R$ 28 milhões haviam sido liquidados.
* ano de 2010, a previsão para a Secretaria do Trabalho é de somente R$ 103 milhões, porém, se prevalecer o empenho de 25% do total será gasto pouco mais de R$ 25 milhões neste ano.

      Tais dados comprovam que é a decisão da liderança política que elege prioridades e destina o gasto do recurso público para onde entende que será melhor para a sociedade.

      No caso da gestão Marta Suplicy, significativa parte do uso dos recursos públicos foram destinados às políticas de geração de emprego e renda, nas regiões mais vulneráveis à pobreza.

       O resultado desta decisão política alterou para melhor a vida de mais de 500 mil paulistanos, além de repercutir positivamente na vida social como no caso do bairro  Capão Redondo, onde, a criação de um centro comercial mais dinâmico e gerador de empregos, foram determinantes para queda dos índices da violência desta região de São Paulo.

     Certas lideranças políticas antes de tomar a decisão, olham para o ser humano.  Já outras lideranças políticas olham para as pontes e corte do gasto do serviço público.

      Na atualidade alguns economistas ainda defendem a crença de que o Estado não pode ser grande. Nem se pode gastar. A melhor decisão para suprir as demandas sociais e entregá-las para o mercado encontrar as soluções para as necessidades da sociedade.

     Outra consagrada premissa: é que a economia nacional deve, primeiro, crescer para depois ser divida entre os membros da sociedade. A antiga formula: fazer o bolo crescer primeiro para depois dividi-lo. 
  
    Mas o que verificamos, na realidade, é que um governo fraco e sem capacidade de atuação é ruim para a sociedade. Ao se esperar o crescimento do bolo para promover a divisão das riquezas da sociedade sem a interferência da liderança política, não haverá num tempo próximo, o bom atendimento da administração pública diante das demandas sociais.

    No enfrentamento da crise financeira internacional o Brasil foi um dos países menos afetados, em razão das decisões de ordem política do presidente Lula, quando manteve a política do aumento do salário mínimo, aumento das vagas para o ingresso de pessoas nos programas assistenciais e a rapidez no reconhecimento do direito à aposentadoria, dentre outras decisões administrativo-políticas nas áreas tributárias e na administração dos bancos públicos e privados.

   Um grande empresário quando decide levar adiante um novo empreendimento, considera e avalia a questão política. Ficar com a opinião isolada dos economistas, pode levar o empresário a sofrer. E, aí, surgir o mesmo sentimento gerado numa sociedade quando se menospreza a política e seus agentes: o arrependimento.  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Eleição presidencial 2010! E os enroscos da oposição.

Na eleição presidencial no Brasil está se confirmado o favoritismo da candidata Dilma do Partido dos Trabalhadores, com os apoios dos partidos políticos que integram a aliança eleitoral e do presidente Lula.

De forma intuitiva somados a elementos objetivos, desde o ano passado, entendo que o cenário atual  seria a realidade deste instante, ou seja, a imensa possibilidade de vitória da Dilma.

O Brasil mudou para melhor - elemento objetivo - grande mobilidade social ascendente. E a maioria da sociedade vive com grande esperança em relação ao futuro e com mais oportunidades concretas no presente - elemento subjetivo. Bem como, o povo brasileiro resgatou um sentimento de auto-estima, o que é prazeiroso e, desse sentimento, não quer desembarcar - mais um elemento subjetivo. Esses elementos a sociedade os relaciona com a atuação do presidente Lula.

Dos elementos objetivos eleitorais favoráveis da candidatura do Partido dos Trabalhadores: 1) imensa aprovação e popularidade do presidente Lula; 2)  grande arco na aliança formada com grandes e médios partidos políticos; 3)  uma oposição sem discurso que empolgue e nem um modelo de país há sinalizar à sociedade da necessidade de mudança no rumo; 4) maior tempo da propaganda eleitoral; 5) fatos e dados para mostrar ao eleitorado nos campos: sociais e econômico; 6) rumo definido que a continuidade do governo do Lula  é importante, sendo que a agente da continuidade é a Dilma.

A oposição ao governo e ao Lula, contavam com três fatos para ganhar a eleição, são eles: 1) agravamento da crise financeira internacional; 2) o desastre da Dilma enquanto agente ativa da ação política; 3) as pesquisas eleitoral que durante todo o ano de 2009, colocavam a candidatura do PSDB, muito adiante que qualquer outra. A oposição contava com poucos trunfos. E arriscou contar com o imponderado, o que pode acontecer numa eleição: imponderável, neste ano de 2010 é probabilidade próximo a zero.

A crise financeira foi vencida por ações anti-cíclicas, desde do 1º trimestre de 2009, quando já sinalizava que o governo federal agiu com rapidez e eficiência. Quanto ao segundo fato - incapacidade Dilma, aqui, também, a oposição esqueceu de ponderar que Dilma foi ativista política e, recentemente, demonstrará enorme capacidade como administradora pública, logo, pouco provável que seria um desastre como agente ativa da política. Ainda mais que, Dilma conta com as lições do fenômeno Lula e - goste ou não, o eventual leitor - conta também com o Partido dos Trabalhadores que possui a maior militância do país dentre os partidos políticos. E, o terceiro trunfo - dianteira nas pesquisas eleitorais - equívoco de leitura e desprezo diante das fases que compõem o processo de uma eleição. A dianteira ocupada por Serra, durante o ano de 2009, foi motivada pela singela razão que se tratava mais demonstração de reconhecimento de nome, por parte do eleitor, do que  intenção de dar o voto.

Para contribuir mais com a Dilma, os partidos da oposição, principalmente o PSDB  criou e passou a conviver com problemas, que não foram superados até o momento presente, são eles: 1) A convivência entre os serristas e os alckmistas; 2) a relação do Serra com Aécio na questão da consulta interna de quem seria o candidato a presidente; 3) a desastrada escolha do vice - Arruda, Alvaro Dias e depois alguém sem expressão nacional para ocupar o cargo de vice-presidente; 4) ausência de um programa de governo para apresentar a sociedade que a empolgasse; 5) ausência do que mostrar como realização de política pública à sociedade nacional para convence-la de que mudar era a melhor alternativa.

Ou seja, a oposição entrou na disputa eleitoral fragilíssima e com diversas fissuras para tratar, desde a boa convivência entre os agentes políticos até a existência de poucos fatores positivos, sejam eles: imaginários e concretos.

Evidente que não foram somente esses os erros da oposição, dentre outros: a crença de que a grande mídia é decisiva na formação da opinião popular; 2) subestimar os avanços do governo Lula e a capacidade de transferir prestígio que tem o presidente; 3) trilhar um caminho repleto de sombras e de atos de politicagem até mesmo a tentativa de judiciliazação da campanha eleitoral.

Sem paixões, a probabilidade maior hoje é a eleição ser decidida no 1º turno, com a vitória da Dilma e dos partidos aliados. Se não for encerrada no dia 3 de outubro e o 2º turno acontecer, o resultado será semelhante ao da eleição presidencial de 2006. Quando Lula não ganhou no 1º turno, por ínfima percentagem dos votos válidos, e se consagrou no 2º turno, impondo ao seu adversário um resultado menor que ele obteve no 1º turno.

Defendo a premissa de que a oposição política é salutar na vida de qualquer país, seja ela do tamanho que for, pois é à partir de sua existência e da sua capacidade de mostrar erros e/ou abusos, além de propor alternativas factíveis é que a sociedade reflete sobre a política. Infelizmente, hoje é durante o processo eleitoral que a maioria da sociedade pensa e reflete sobre tema de elevada importância da vida em sociedade: a política.

Os maiores enroscos das pessoas que se encontram na oposição política são dois. O primeiro é essencial: aprender a ser de fato oposição e o segundo é sobreviver sem politicagem por mais 4 anos, até 2014, porque esta de 2010 está definida, exceto, se o mundo desabar sobre as cabeças de Dilma e Lula, ou seja, pouco provável.



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