sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Crise

A crise de 2008

Luiz Eduardo Wanderley
In "Alternativas à Crise" Editora Cortez.
comentários em italico é de minha responsabilidade.

Crise = ruptura, fratura, desconfiança, pânico, pessimismo, sentimento emocional, transição, conflito, tensão; pode atingir todas as dimensões da sociedade – econômicas, políticas, sociais, culturais, religiosas.

A crise pode ser: 1) estrutural ou conjuntural; 2) parcial ou sistêmica; 3) curta, media ou longa duração.
A conjuntural e parcial são permanentes, com impactos maiores ou menores.
Já a estrutural e sistêmica abalam os alicerces, os fundamentos, os valores, as interpretações, e são mais esporádicas.

E a crise estrutural ou conjuntural parcial e de media duração? O que muda na sociedade neste quadro de crise? A crise sistêmica e de media duração o que gera no meio social?
Existe crise conjuntural e sistêmica? O casamento! Ou a própria vida é crise conjuntural e estrutural sistêmica e de longa duração? Se for verdade a premissa, não devemos temer ou evitar a crise, pois faz parte e é essencial ao ser humano.


A crise atual é interpretada de forma generalizada que é estrutural e atinge pilares básicos do neoliberalismo. Mas é preciso ter cautela sobre as respostas e os efeitos da crise, pois interpretações convergem e divergem espetacularmente.
No campo dominante a crise é sistêmica, necessita de regulação dos mercados financeiros, o Estado deve acudir o sistema bancário, não se deve combater o liberalismo, o capitalismo será mais forte. O cassino das bolsas continua a propiciar ganhos extraordinários através da especulação financeira e não da produção. Para eles basta regular e dar trilhões de dinheiros aos bancos e o sistema estará salvo, com a volta da confiança e da normalidade do sistema falido. Suspiram e acenam com a necessidade de um crescimento mais justo e humano, com boa governança, mais liberdade e menos pobreza e instabilidade. Mas não querem pagar a conta de modo algum, quem deve pagar são os bilhões de pobres do planeta.

Assim é fácil, muito fácil cometer erro e quem paga por esse é o vizinho. Penso que são uns grandes caras de pau os defensores da tese. Não falam em novo conceito de propriedade, não falam em fortalecer o setor produtivo, não fala em novo padrão de consumo, não falam em Estado forte para combater as grandes multinacionais, não falam em quebrarem patentes, não falam em novo conceito de trabalho e sua remuneração melhor diante da intensidade, enfim, nada de inovar ou repartir bens, direitos e propriedades. Nada de concreto é proposto como elevação da tributação dos ricos, quebra dos paraísos fiscais, limite de ganhos e de acumulo de riqueza. Conceitos como solidariedade tributária, igualdade de oportunidades e limites nos acúmulos de renda e propriedade, respeito sincero e proativo em favor do ser humano. Não são considerados e nem mencionados por estes grandes iluminados.
Nos EUA estimasse que fosse preciso 1,5 trilhão para recapitalizar o sistema bancário. No dia 21 de abril o FMI estima que são preciso 4,5 trilhões para salvar os bancos nos EUA, Europa e Japão. Georges Soros o grande defende que é preciso ter um banco bom e firme e outro que receba os papeis podres dos demais. Não podem ter prejuízos estes povos bons e generosos do mundo financeiro. Abnegados do ter.
O mundo, na visão do autor, esta dividido entre dominantes e dominados; pobres e ricos. Esta é a melhor forma de dividir a sociedade mundial? Penso que sim. Melhor do que raça ou naturalidade.
Caso curioso é o da Suíça e a tolerância dos poderosos com sua estratégia de crescimento econômico que á o esconderijo do dinheiro sujo gerado no planeta. Até a crise atual o paraíso fiscal era tolerado e estimulado = liberdade do dinheiro pelo mundo. Esta estratégia é como a do petróleo hoje no Brasil, ou seja, burra.


No campo dos dominados ampliar as estratégias da denominada globalização contra-hegemônica através das experiências e práticas realizadas e em andamento nos planos econômicos, político, social e cultural.
A ausência de mobilização dos segmentos organizados da sociedade civil é um dos grandes males da atualidade. Sem ação coordenada entre elas, não haverá grande e profunda mudança.
Retomar uma discussão sobre a educação popular. Reviver a pesquisa-participante e a pesquisa-ação. Entender e analisar criticamente novas conceituações teóricas, tais como: complexidade, a auto-organização, as teorias dissipativas, a teoria do caos, o pós-modernismo, o desenvolvimento sustentável, a ecologia e o meio ambiente, etc. Fortalecer e desenvolver o senso comum emancipatório – um senso comum ético – um senso comum solidário – um senso comum político – um senso comum participativo – um senso comum reencantado.

SUGESTÕES DE ALTERNATIVAS PARA TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS:

1) Tributar as transações financeiras de operação de cambio = Tobin;
2) Criar um Fundo Social com este recurso tributário;
3) Denunciar o AMI – Acordo Multilateral de Investimento e despontecializar o poder das empresas transnacionais;
4) Não refutar o novo no processo educacional e reafirmar as capacidades de análise, crítica, compreensão das multidisplinariedades e proposição de caminhos inovadores teóricos e práticos; que proporcione o conhecimento emancipatório;
5) Refundar o UNITRABALHO e uma UNIONG;
6) Questionar o tema dos créditos: para que e para quem. Prever e alocar recursos para assegurar emprego, aperfeiçoar a divisão social do trabalho, ampliar o sistema de proteção social (previdência, saúde e assistências);
7) Aplicar o balanço social nas empresas privadas e atribuindo vantagens àquelas que insiram ações para as maiorias pobres e excluídas;
8) A grande mídia deve passar por uma profunda alteração democrática, objetivando o estabelecimento de uma opinião pública consciente e participante;
9) Maximizar estudos e ações que visem o realismo utópico seja individual ou coletivo;
10) Universalização das políticas públicas e sociais;
11) Aprofundar a democratização do Estado e da Sociedade Civil;
12) Desenvolver meios eficazes de controle social, da sociedade sobre o Estado, dos membros de cada grupo, associação, movimento, etc; sobre suas instituições e entidades;
13) Transparência e visibilidade social das ações dos governos e empresas;
14) Garantir e aplicar a responsabilidade fiscal e social;
15) Instituir uma cultura cívica que garanta a cidadania plena e ativa;
16) Consolidar a democracia representativa e incorporar avanços da democracia direta: plebiscito, referendos e consultas;
17) Extirpar a corrupção, fisiologismo, o autoritarismo e o patrimonialismo;
18) Fortalecer a parceria entre Estado e Sociedade Civil;
19) Instituir os Conselhos de representantes e de gestores;
20) Dinamizar o Plano Diretor das cidades através da participação popular;
21) Democratizar o acesso aos bens produzidos;
22) Fortalecer e expandir os movimentos sociais reformistas ou transnacionais;
23) Instituir e experimentar a propriedade comunitária e autogestionária;
24) Avançar no multiculturalismo, no respeito ao diferente, na ênfase às culturas híbridas e novas culturas urbanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário